« Hoje, a paz enfrenta um novo perigo, a emergência climática, que ameaça a nossa segurança, a nossa subsistência e as nossas vidas. É por isso que estou a convocar uma Cimeira da Ação Climática. É uma crise global. Só se trabalharmos juntos podemos tornar a nossa única casa pacífica, próspera e segura para nós e para as gerações futuras », disse o secretário-geral da ONU.
Peace faces a new danger: the climate crisis. It threatens our security, our livelihoods, and our lives
Only with urgent #ClimateAction can we make our only planet more peaceful, prosperous and safe – for us and future generations. pic.twitter.com/cQiGzs8mFs
— António Guterres (@antonioguterres) September 21, 2019
Como o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, disse à Lusa, o principal objetivo da cimeira, que decorre ao mesmo tempo que a Assembleia Geral da ONU, é que o maior número de Estados se comprometam com a neutralidade carbónica em 2050.
Na véspera, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas, divulgou um relatório que confirma os piores receios sobre as alterações climáticas e o aquecimento global. A temperatura média no período 2015-2019 será de 1,1° C superior à do período 1850-1900.
Os dados mais recentes confirmam a tendência dos quatro anos anteriores, que já eram os mais quentes alguma vez registados, ou seja, desde 1850.
O relatório também assinala que as ondas de calor foram o perigo climático mais mortal no período 2015-19, afetando todos os continentes e estabelecendo novos recordes nacionais de temperatura. O verão de 2019, que incluiu o mês mais quente de todos os tempos (julho), viu incêndios florestais sem precedentes no Ártico. Em junho, estes foram responsáveis pela emissão de 50 megatoneladas de dióxido de carbono.
E as emissões de CO2 continuaram a aumentar em 2018 e serão pelo menos tão elevadas em 2019, segundo os cientistas que ultimaram o relatório para a ONU em preparação para a cimeira de segunda-feira.
Roteiro português
É o ministro do Ambiente quem vai apresentar o roteiro com as metas para Portugal em Nova Iorque. « É uma peça de uma estratégia onde o território tem uma componente muito relevante, e onde a remuneração dos serviços de ecossistema é da maior importância para uma transição justa, tanto quanto possível igualitária no próprio território, e que garanta que o rendimento nunca baixará nos territórios de baixa densidade, porque só dessa forma é que o país como um todo pode de maneira justa ser neutro em carbono », diz Matos Fernandes.
Segundo o governante, o país « não irá chegar a 2050 com emissões zero » de CO2. « As 68 megatoneladas de CO2 de há dois anos serão, correndo as coisas de acordo com a nossa ambição, 13 megatoneladas em 2050 », disse.
É o antigo primeiro-ministro português e alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados quem dá as boas-vindas aos participantes e irá falar com jovens ativistas. No sábado, Guterres fez parte de um painel na Cimeira da Ação Climática para a Juventude, que contou com a participação da sueca Greta Thunberg e também dos jovens Bruno Rodríguez (Argentina), Wanjuhi Njoroge (Quénia) e Komal Karishma Kumar (Fiji).
Antes das alocuções sobre temas específicos irão fazer uso da palavra três mulheres — Angela Merkel, da Alemanha, Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, e Hilda Heine, das Ilhas Marshall — e um homem, o primeiro-ministro da maior democracia do mundo, Narendra Modi (Índia).
Alemanha junta-se a Portugal na aliança contra o carvão
Na véspera, o governo de Angela Merkel anunciou que a Alemanha vai aderir a uma aliança internacional de países que se comprometeram a abandonar gradualmente a eletricidade produzida a partir do carvão. « Abandonar o carvão é um pilar essencial da proteção climática global », disse a ministra do Ambiente, Svenja Schulze.
« Quando um grande país industrial como a Alemanha vira as costas ao nuclear e ao carvão e está em transição para as energias renováveis para satisfazer as suas necessidades energéticas, envia um sinal forte a outras partes do mundo », disse ainda a ministra.
A Powering Past Coal Alliance, fundada em 2017, junta 30 governos, entre os quais o de Portugal, bem como de mais de 20 governos estaduais ou autárquicos (em especial na América do Norte, na Austrália e no Reino Unido) e mais de três dezenas de empresas. Os signatários comprometem-se a suspender a construção de novas centrais elétricas a carvão, a suspender o financiamento do carvão à escala internacional, a fixar uma data para a saída efetiva desta fonte de energia e a respeitar as metas do Acordo de Paris. A Alemanha pretende encerrar todas as suas centrais elétricas a carvão até 2038, o mais tardar.
Na entrevista à Lusa, o ministro português do Ambiente afirmou que, apesar de o país ter como objetivo encerrar as duas centrais termoelétricas até 2030, espera que em 2025 a central do Pego esteja encerrada e a de Sines também encerrada ou prestes a encerrar.
Expectativa para o painel de intervenções sobre os planos para um mundo com neutralidade de carbono. Nele vão intervir os presidentes do Chile (Sebastián Piñera) e da Finlândia (Sauli Niinistö), o enviado especial da ONU para a ação climática, o ex-mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg, a autarca de Montreal Valérie Plante e o administrador da Allianz, Emmanuel Faber, bem como para o encerramento da cimeira, no qual voltará a falar António Guterres.
A alocução do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, junta-se a de outros líderes mundiais como os primeiros-ministros de Espanha, Itália, Reino Unido ou Suécia, ou os presidentes do Egito, da Turquia ou da Colômbia.
Países como os Estados Unidos ou o Brasil primam pela ausência, enquanto a China (o mais populoso) e a Rússia (o maior em superfície) não se fazem representar pelo chefe de Estado ou de governo. Moscovo envia o vice-primeiro-ministro, Alexei Gordeyev, e Pequim o representante especial do presidente Xi Jinping, Wang Yi.
Alfa/DN/Lusa