O jornalista e escritor, Bernard Pivot, ‘criador’ da emissão literária ‘Apostrophes’, morreu hoje aos 89 anos de idade.
O jornalista e escritor francês Bernard Pivot, conhecido pelos programas de televisão « Apostrophes » e « Bouillon de Culture », morreu esta segunda-feira, aos 89 anos, em Neuilly-sur-Seine, Paris, disse a sua filha Cécile Pivot à agência France Presse (AFP).
Nascido em 05 de maio de 1935, em Lyon, numa família de pequenos comerciantes, era apaixonado pela História e pela sua língua, o francês, com todas as suas « pequenas particularidades, como regularmente afirmou.
Estudou Direito, em Lyon, Jornalismo, em Paris, estreou-se como jornalista no suplemento literário do diário Le Figaro, em 1958, que veio a dirigir, e que trocou anos mais tarde, em 1973, pela televisão, para apresentar um magazine literário.
Em 10 de janeiro de 1975, estreou o seu primeiro programa de sucesso, em nome próprio, « Apostrophes », que se tornou objeto de culto na televisão francesa e, depois, nos canais por satélite emergentes nos anos de 1980.
Entrevistas a escritores como Alexandre Soljenitsyne, Vladimir Nabokov, Marguerite Duras, Marguerite Yourcenar, Umberto Eco e Jean-Marie Le Clézio, Claude Levi-Strauss, Roland Barthes e Pierre Bourdieu, expoentes das letras e do pensamento na segunda metade do século XX, afirmaram a importância do programa durante quase duas décadas.
O seu âmbito foi alargado a políticos e aos seus gostos, como o Presidente francês François Mitterrand. Em 1987, Pivot ousou entrevistar Lech Walesa clandestinamente na Polónia, desafiando as autoridades pró-soviéticas dessa Varsóvia.
Em janeiro de 1991, « Apostrophes » deu lugar a « Bouillon de culture », no qual Bernard Pivot alargou o universo dos livros, ao cinema e à arte.
Foi « Bouillon de culture » que Bernard Pivot trouxe a Lisboa, em tempo de Expo`98, para numa mesma emissão entrevistar a escritora Lídia Jorge, o cineasta Manoel de Oliveira e os seus atores Leonor Silveira e Diogo Dória, sem esquecer o então ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho.
« Bouillon de culture » teve a última emissão em junho de 2001. Seguiu-se então « Double jeu », entre 2002 e 2005, altura em que Pivot se afastou de uma presença regular nos écrãs.
Membro da Académie Goncourt desde 2004 e presidente de 2014 a 2019, a sua biografia literária inclui vários ensaios e dois romances, um mais esquecido, publicado em 1959 (« L`Amour en vogue »), e outro em 2012 (« Oui, mais quelle est la question? »).
Hoje a Academia homenageou aquele que foi o primeiro « não escritor » profissional que cooptou, elogiando a sua « curiosidade insaciável », os « elevados padrões morais », assim como « a sua independência intransigente » em relação às grandes editoras.
Sob a sua presidência, escreve a AFP, citando a Academia Goncourt, os prémios de 2006 (« As Benevolentes », de Jonathan Littell) e de 2010 (« O Mapa e o território », de Michel Houellebecq) ficarão na história.
Hoje, o Presidente francês Emmanuel Macron lembrou igualmente Bernard Pivot, que definiu como « popular e exigente, querido no coração dos franceses », e que viveu « com o espírito francês da conversa, da curiosidade e da `gourmandise`. »
Entre as obras de Pivot também se encontra um « Dictionnaire amoureux du vin » (2006).