Vítor Matos, jornalista do Expresso, entrou Na cabeça de Ventura, e conta-nos aqui a história, as contradições e ambições, as locuras e traições do fundador do partido Chega: André Claro Amaral Ventura.
Entrevista conduzida por Didier Caramalho no ALFA 10/13 do dia 24 de setembro de 2024:
André Ventura é um Fausto à portuguesa, alguém que foi deixando para trás os seus valores em troca de tudo o que alimentasse a sua ambição. Esta é a ideia central apresentada por Vítor Matos (jornalista do Expresso, comentador político na SIC-Notícias e na Rádio Observador) no seu livro Na cabeça de Ventura (editora Zigurate). Recorde-se que o mito de Fausto retrata a tentação de sacrificar a alma e seus valores por ganhos materiais, vantagens mundanas, refletindo a ambição desmedida e as implicações morais das nossas escolhas.
O líder do Chega, desde cedo, demonstrou uma habilidade em se reinventar; « é um fura-vidas » afirma o jornalista. A sua ascensão pública começou tanto nos estúdios da CMTV, como comentador desportivo, como nas páginas do Correio da Manhã. Foi aí que Ventura deixou de ser apenas um político e se tornou também uma figura mediática. Ao ganhar destaque nesses meios de comunicação – nomeadamente devido ao seu « enorme talento comunicacional » – Ventura utilizou essa visibilidade como plataforma para alcançar « primeiro o sucesso, depois a fama e, finalmente, o poder » explica Vítor Matos.
Esse caminho levou André Ventura a integrar o PSD nas eleições autárquicas de 2017, como candidato à Câmara de Loures. Foi nesse momento que, após criar uma polémica mentirosa em torno da comunidade cigana e da insegurança, percebeu que existia um eleitorado populista e xenófobo à procura de um líder audaz. Assim, em 2019, nasceu « um partido que vem de franjas do PSD, do CDS e até do PPM, e outras franjas conservadoras », o Chega. Atualmente, André Ventura concentra-se sobretudo em « capitalizar a revolta contra as elites e contra os partidos tradicionais ».
Vítor Matos reconhece que « o Chega é o André Ventura e o André Ventura é o Chega » acrescentando ainda que « uma coisa é certa: este partido veio para ficar ». Dado isso, tentemos entender quem é realmente o seu líder e qual é o problema de que o Chega é um sintoma.
Didier Caramalho