A seleção portuguesa de futebol conta dois ‘brilharetes’, com presenças nas meias-finais, duas ‘poucas vergonhas’, num misto de resultados desastrosos e indisciplina, e duas deceções, no balanço de seis presenças sem ‘meio termo’.
Depois de uma estreia brilhante, em 1966, com o ‘rei’ Eusébio a levar a equipa ao ‘bronze’, como nove golos, Portugal só voltou a destacar-se 40 anos volvidos, em 2006, com um quarto lugar, sob o comando de Figo, então único sobrevivente da ‘geração de ouro’.
Estas duas presenças são, porém, exceções, já que as outras quatro acabaram mal, em 1986 e 2002 agravadas por comportamentos pouco edificantes, e em 2010 e 2014, nas duas últimas, com Cristiano Ronaldo como ‘estrela’, sem os registos aguardados.
No total, Portugal conta um terceiro lugar, um quarto, uma eliminação nos oitavos de final e três quedas na fase de grupos, o que significa que metade das qualificações só valeram, depois, três jogos na fase final.
Em termos individuais, o nome de Portugal nos Mundiais ‘confunde-se’ com o do ‘rei’ Eusébio, o único que, até agora, conseguiu entrar na ‘lenda’ da prova, sendo que só precisou de uma fase final, que acabou como melhor marcador.
Com o ‘13’ nas costas, o ‘Pantera Negra’ apontou um golo à Bulgária e dois ao Brasil, de Pelé, na fase de grupos, quatro à Coreia do Norte, para virar o jogo de 0-3 para 4-3, nos ‘quartos’, um à Inglaterra, nas meias-finais, e um à União Soviética, no jogo que valeu aos ‘Magriços’ o último lugar do pódio.
Em Inglaterra, na primeira presença em Mundiais, o ‘onze’ de Manuel da Luz Afonso começou imparável, ao bater sucessivamente Hungria (3-1), Bulgária (3-0) e o bicampeão Mundial em título Brasil (3-1), o que lhe valeu a vitória no Grupo 3.
Nos quartos de final, o ‘sonho’ parecia terminado ao fim de 25 minutos, com a Coreia do Norte a vencer por 3-0, mas Eusébio respondeu com quatro golos consecutivos, dois de penálti, antes de José Augusto rematar a incrível reviravolta (5-3).
Depois, e num jogo que os ingleses trocaram, à última hora, de Liverpool para Wembley, Eusébio voltou a marcar, mas um ‘bis’ de Bobby Charlton deixou o ‘rei’ em lágrimas. Ainda recuperou o ânimo e contribuiu com um tento para o 2-1 à União Soviética, no jogo de ‘consolação’, decidido por José Torres.
Após estreia tão prometedora, Portugal só voltou ao Mundial 20 anos depois, em 1986, e mais valia nem ter ido, algo que também se aplica à terceira participação, em 2002.
Foi, assim, preciso esperar 40 anos para ver Portugal voltar a ‘brilhar’ num Mundial: em 2006, na Alemanha, a equipa do brasileiro Luiz Felipe Scolari não teve tanto encanto, mas foi capaz de vencer duas batalhas épicas, para a história.
A fase inicial foi um ‘passeio’, com as primeiras duas vitórias, sobre Angola (1-0) e Irão (2-0), a garantirem desde logo um prematuro apuramento para os ‘oitavos’ e uma terceira, com poupanças, face ao México (2-1), a selar o triunfo no Grupo D.
O Mundial começou, verdadeiramente, em Nuremberga, numa ‘batalha’ de cartões (16 amarelos e quatro vermelhos) com a Holanda, que Maniche resolveu (1-0), com Portugal muito tempo em inferioridade numérica (10 contra 11 e nove contra 10) e quase sempre sem bola (38 por cento, contra 62).
As grandes emoções prosseguiram nos ‘quartos’, com Portugal a desperdiçar quase uma hora em vantagem numérica (expulsão de Wayne Rooney), mas a acabar por vencer a Inglaterra na ‘lotaria’, com Ricardo (três defesas) como ‘herói’, a exemplo do Euro2004, e Cristiano Ronaldo a selar o apuramento.
A equipa lusa estava entre os quatro melhores do Mundo – todos europeus -, mas não conseguiu mais: caiu nas ‘meias’, perante a França, como nos Europeus de 1984 e 2000, vergado a uma grande penalidade de Zinedine Zidane (0-1) e, já sem ‘alma’, deixou o ‘bronze’ para uns anfitriões bem mais fortes (1-3).
Antes, em 1986, Carlos Manuel logrou o ‘milagre’ da qualificação em Estugarda (1-0) e abriu a fase final com novo golo para marcante (1-0 à Inglaterra), mas quase tudo o resto foi muito triste, traduzindo-se no ‘caso Saltillo’, um confronto entre jogadores e FPF devido a divergências com os prémios de jogo.
Desportivamente, o ‘onze’ de José Torres, também azarado devido à lesão sofrida pelo guarda-redes Bento, perdeu, depois, com a Polónia (0-1) e foi humilhado por Marrocos (1-3), acabando no quarto posto do Grupo F, que qualificou os três primeiros.
Em 2002, e após uma sensacional fase de qualificação, em que eliminou a Holanda, a seleção lusa, com Figo, então o melhor do Mundo, limitado fisicamente, começou de forma desastrosa (2-3 com os Estados Unidos) e pagou caro o facilitismo.
O ‘onze’ de António Oliveira, com a base da ‘geração de ouro », os campeões mundiais de juniores de 1989 e 1991, ainda goleou a Polónia (4-0, com três de Pauleta), mas caiu parente a anfitriã Coreia do Sul (0-1), num jogo em que Beto e João Vieira Pinto acabaram expulsos. E o avançado ainda ‘atacou’ o árbitro.
Portugal iniciou, porém, em 2002 uma série de cinco presenças consecutivas, a última por concretizar, na Rússia, entre 14 de junho e 15 de julho de 2018, mas, depois do quarto posto de 2006, falhou claramente em 2010 e 2014.
Na África do Sul, o ‘onze’ de Carlos Queiroz só conseguiu marcar à Coreia do Norte, brindada com uma goleada histórica (7-0), tendo ficando em branco nos outros dois jogos da fase de grupos, que, ainda assim, não perdeu – 0-0 com costa do Marfim e Brasil.
Apurado no segundo posto, atrás dos ‘canarinhos’, Portugal teve pela frente a Espanha e foi eliminado com um desaire por 1-0, por um tento de David Villa. Os espanhóis viriam a conquistar o seu primeiro título, com um golo de Iniesta à Holanda.
Quatro anos depois, em 2014, no Brasil, Portugal fez bem pior, pois, como em 1986 e 2002, não conseguiu, sequer, ultrapassar a fase de grupos, numa participação que começou a ficar comprometida logo a abrir, com um pesado 0-4 com a Alemanha.
No jogo seguinte, Portugal esteve quase a ficar pelo caminho, num duelo com os Estados Unidos que acabou por empatar (2-2) sobre o final, com um tento de Silvestre Varela. Ficou, porém, a ser preciso golear o Gana e, com Cristiano Ronaldo muito desinspirado, só foi possível vencer por 2-1.
Em termos numéricos, e em seis participações, a formação das ‘quinas’ contabiliza 50 por cento de vitórias, com um total de 13, em 26 jogos, mais quatro empates e nove derrotas, com 43 golos marcados, nove por Eusébio, e 29 sofridos.
Alfa/Lusa.