Macron humilhado com demissão de ministro do Ambiente. Ecologista Nicolas Hulot anunciou a saída do Governo francês sem avisar previamente o Presidente. Denunciou o poder dos lóbis e só avisou o primeiro-ministro por SMS depois de anunciar a demissão diretamente aos franceses numa entrevista a uma rádio
Bateu a porta com estrondo, numa surpreendente humilhação para o Presidente “Júpiter”, Emmanuel Macron. O mediático ministro de Estado e do Ambiente, Nicolas Hulot, uma das personalidades francesas mais bem vistas pelos seus compatriotas, demitiu-se na terça-feira em direto durante uma entrevista na rádio pública (France Inter), sem sequer ter avisado previamente nem o chefe do Estado nem o do Governo da sua decisão.
A notícia teve o efeito de uma bomba e é manchete de todos os jornais franceses desta quarta-feira. Uma sondagem publicada pelo matutino “Le Figaro” indica que 55% dos franceses lamentam a demissão e que 65% acham que se trata de uma “má notícia para a Governo”. Ao invés, 84% julgam que a sua saída “é boa” para o ecologista.
Nicolas Hulot era o número três do Executivo de Paris e estava no posto há 15 meses. Entrara para o Governo seduzido por Macron, que lhe prometera tudo o que ele queria. Fora, nessa altura, uma das mais vistosas “contratações” do Presidente, que tinha conseguido convencer o conhecido ecologista depois de três dos seus antecessores terem falhado tentativas idênticas – de Jacques Chirac a François Hollande, passando por Nicolas Sarkozy.
Hulot anunciou a saída com a voz embargada, à beira do sufoco e das lágrimas e com uma confissão de impotência. Denunciou a força dos lóbis, a influência de grupos de pressão, que segundo ele impediram o avanço dos seus grandes projetos para o ambiente. Foi para o Governo para lançar uma “revolução ecológica” no país, mas apenas conseguiu avançar em pequenas coisas. Estava saturado de complicadas reuniões sucessivas para alcançar delicados compromissos. A última gota de água foi uma reunião no Eliseu com associações de caçadores, que resultou em decisões favoráveis a estes últimos.
“Não quero continuar a mentir a mim próprio”, declarou. A forma como anunciou a demissão é terrível para Macron e para o chefe do Governo, Édouard Philippe. O Presidente estava em visita oficial à Dinamarca e Hulot apenas confirmou a demissão por SMS ao primeiro-ministro, já no carro, depois de terminada a entrevista.
Nicolas Hulot comunicou a sua decisão diretamente aos franceses, de forma algo amarga mas sincera, colocando um novo problema para a rentrée de Emmanuel Macron, que já se apresentava muito complicada.
“Depois de um verão poluído pelo caso Benalla (escândalo com o chefe da segurança pessoal do Presidente), a partida do ministro da Transição Ecológica surge como um contratempo pessoal para o Presidente”, escreve esta manhã o “Le Figaro”.
“A sua renúncia demonstra a incompatibilidade entre o modelo liberal de crescimento e a urgência climática”, lê-se no matutino “Libération”.