Coletes amarelos. Macron recua, mas inquieta europeus

“Coletes amarelos”. Macron recua, mas continua a inquietar europeus. Presidente Emmanuel Macron vai finalmente falar ao país no início da semana. Vai recuar perante a revolta dos “coletes amarelos”, mas diplomatas europeus continuam inquietos. “Se ele cair a porta fica aberta para Marine le Pen”, diz um embaixador ao Expresso.

Alfa/Expresso. Adaptação. Por Daniel Ribeiro

França voltou ao caos, ontem, sábado. Menor em Paris do que nos dois sábados precedentes, mas muito maior em grandes cidades da província como Bordéus ou Marselha.

O Presidente Emmanuel Macron precisava de mostrar que as autoridades eram capazes de limitar os estragos em Paris e de certo modo conseguiu-o embora as pilhagens e os confrontos tivessem de novo atravessado a cidade de lés a lés. Desta vez até chegou ao chique bairro do Marais e, também, à praça da República e à zona do bairro dourado do Parque Monceau (onde está instalado o Consulado-Geral de Portugal), além dos problemas já habituais nos Campos Elísios e ruas e avenidas mais próximas.

Nas manifestações, a palavra de ordem mais ouvida continuava a ser “Macron demissão”, gritada em coro por todo o lado e escrita em monumentos e um pouco por todo o lado, incluindo no resto do país. A segunda e terceira continuava a ser o aumento do poder de compra e dos salários e das pensões e a baixa dos impostos.

Na província, o centro de Bordéus viveu um inferno, com incêndios simultâneos de diversas barricadas gigantes e confrontos e pilhagens graves.

Cenas de caos aconteceram um pouco por todo o país – de Paris e Bordéus a Lyon, Nantes, Avignon, Toulouse, Saint-Étienne ou Marselha, entre outras cidades. E, apesar da violência, durante quatro sábados consecutivos, os “coletes” continuam a ter o apoio de dois terços da população.

Finalmente consciente, diz-se nos corredores do poder em Paris, de que há “um corte profundo” entre ele e os franceses, Emmanuel Macron vai falar ao país provavelmente amanhã, segunda-feira, à noite. E recuará, designadamente na fiscalidade e nas ajudas aos assalariados mais desfavorecidos.

Segundo as informações recolhidas pelo Expresso em Paris, estará disposto quase a “pedir desculpa” (de forma indireta, claro) aos franceses “pela sua arrogância”, designadamente por ter chamado, na Dinamarca, “gauleses refratários à mudança”, aos seus compatriotas. Ou pela forma displicente e fanfarrã como encarou o caso do seu ex-chefe de segurança, Benalla, suspeito de ter tentado montar uma polícia paralela no Eliseu e que foi filmado a bater em manifestantes no passado dia um de maio, em Paris.

O Presidente jogará tudo na sua comunicação ao país. Falará sob pressão porque os “coletes” querem ouvir respostas claras e concretas e marcaram, entretanto, para o próximo sábado, novas manifestações para todo o país.

Emmanuel Macron, que desejou ser Júpiter, no Eliseu, vai descer ao terreno. Esteve durante vários dias fechado no Palácio Presidencial, mas soube que, por exemplo no edifício da Ópera Garnier foi escrito: “Macron = Louis 16”, numa alusão ao rei guilhotinado pela Revolução Francesa.

Diplomatas europeus em Paris contatados este fim de semana e nos últimos dias pelo Expresso, seguem com muita apreensão o que se passa em França. Para eles, um descalabro de Macron, que foi o seu herói há poucos meses por ter travado o populismo, poderia abrir as portas do poder a Marine le Pen, a líder nacionalista e populista francesa.

Se ele cair a porta fica aberta para Marine le Pen”, diz um embaixador ao Expresso.

 

Article précédentColetes amarelos. França está a arder e autarca fala em “cenas de apocalipse” (atualizado com balanços)
Article suivantEmmanuel Macron fala aos franceses na segunda-feira