Organização não governamental diz que a população daquela espécie de bacalhau diminui drasticamente e que a sua pesca já não é sustentável.
Corte a cebola em rodelas, esmague os dentes de alho. Refogue em azeite. Com o bacalhau já cozido e desfiado, junte-o à mistura. Deixe estar tudo ali a fritar um bocadinho. Acrescente as batatas-palha e misture bem. Está mesmo a chegar ao fim da receita. Bata os ovos e despeje na frigideira. Reveja o sal e a pimenta. Desligue o lume (não deixe secar, é esse o segredo). Salpique com salsa e azeitonas. Bem sabemos que hoje em dia já tudo se faz à brás mas e se nunca mais puder cozinhar ou comer o mais tradicional de todos os “à brás”: o bacalhau?
A população de bacalhau do mar do Norte diminuiu drasticamente, alertou o Conselho Internacional para a Exploração do Mar (Ices), a mais antiga organização intergovernamental do mundo.
De acordo com a Ices, para que as espécies futuras não sejam prejudicadas, a pesca do bacalhau naquela zona do mundo deveria ser reduzida para dois terços (63%).
Os stocks de peixe são definidos com base na quantidade pescada no ano anterior. No caso do bacalhau, a quota tinha sido suficientemente baixa e, por isso, foi possível definir a quantidade atualmente permitida. No entanto, é demasiado alta e está a pôr em risco a espécie. “Apenas recentemente o mar do Norte recuperou de uma sobrepesca histórica. Foi conseguido através de quotas de pesca restritas, limitando os riscos e começando a neutralizar o impacto da pesca de arrasto em algumas áreas chave.
Em contraste, na costa oeste, na costa escocesa, a população de bacalhau está a colapsar há uma década”, alertou ao jornal “The Guardian” Phil Taylor, responsável pela Open Seas, uma organização escocesa de defesa do oceano. “À procura de lucros a curto prazo, os políticos não cumpriram ou não estão cumprir muitas das medidas de recuperação. As quotas de pesca do bacalhau do mar do Norte foram 20% inferiores àquilo que foi aconselhado pelos cientistas.”
No entanto, esta população de bacalhau está classificada pela Marine Stewardship Council (MSC), uma organização sem fins lucrativos que estabelece padrões de pesca sustentável, como uma espécie “sustentável”. Ou seja, pode ser pescada.
“A MSC precisa urgentemente de rever e reavaliar a certificação para esclarecer os consumidores que neste momento estão às escuras. Atualmente, todo o sistema falha a dar garantias ao consumidor”, defendeu ainda Taylor, da Open Seas.
Só final do mês, as recomendações da Ices vão ser analisadas pela MSC. E, a confirmarem-se as conclusões daquele organismo, a certificação atribuída de que é sustentável pescar o bacalhau do mar da Noruega vai ser rescindida. Quer o consumidor, quer algumas grandes empresas de distribuição dependem desta certificação para a aquisição do produto. Uma certificação que agora é posta em causa.
“A MSC está empenhada em reconhecer e recompensar as pescas sustentáveis através do nosso rigoroso programa de certificação”, disse ao “Guardian” Erin Priddle, diretor do programa da MSC no Reino Unido e Irlanda.
O bacalhau do mar do norte ganhou o crachá de sustentável em 2017.
Alfa/EXPRESSO