Todos os dias regressam 40 emigrantes – um trabalho do Expresso, edição semanal deste sábado, 23
Número de portugueses a voltar em 2018 foi o mais alto desde 2010. Mas não é o apoio financeiro que os atrai
Um trabalho de RAQUEL ALBUQUERQUE
Rui tinha um bom emprego em Portugal quando, em 2013, decidiu aceitar uma proposta de trabalho ainda melhor na Holanda. Um ano depois saltou para outra oferta em França, o país onde viveu até regressar a Portugal, em dezembro do ano passado. Não foi a crise que o fez emigrar, nem foram os apoios fiscais e financeiros atribuídos pelo Governo para incentivar o regresso dos emigrantes que o levaram a voltar. Aos 39 anos, Rui Rota queria juntar-se à mulher e aos dois filhos, um deles recém-nascido, que já tinham vindo para Lisboa para ter maior acompanhamento da família. Por isso, assim que soube que a empresa onde trabalha tinha criado um novo posto em Portugal, candidatou-se.
O engenheiro eletromecânico é um dos 14.570 emigrantes que regressaram a Portugal em 2018, numa média de 40 por dia, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Cerca de 75% têm menos de 44 anos e só 5% acima de 65. Mas o número de entradas de portugueses no país até pode ser superior, porque nestes cerca de 15 mil estão só as pessoas com naturalidade portuguesa, ou seja que nasceram em Portugal. Os filhos que já tenham nascido lá fora não são contabilizados. Se se contarem as entradas, em 2018, de pessoas com nacionalidade portuguesa, então o número sobe para cerca de 20 mil, segundo as estimativas do INE.
Os regressos de quem saiu do país e voltou estão a aumentar há três anos consecutivos e em 2018 atingiram o valor mais alto desde 2010, quando cerca de 16 mil portugueses retornaram. Nessa altura, a gravidade da crise noutros países, como Espanha, terá feito muitos regressar a casa à procura de apoio.
Este ano ainda não existem dados, mas estima-se que a tendência de aumento se mantenha. “É expectável que todos estes fluxos cresçam nos próximos anos, sobretudo se a economia portuguesa continuar a ajudar”, defende Rui Pena Pires, coordenador do Observatório da Emigração.
“Para o aumento do retorno tem contribuído a crise em países de destino importantes, como o Reino Unido e Angola, ou a Venezuela, bem como o início da entrada na reforma de muitos emigrantes das novas correntes europeias, como é o caso da Suíça.”
Apesar de estarem a aumentar os regressos, as partidas continuam a ser muito superiores. O número de portugueses a sair do país está em queda desde 2013, mas os especialistas lembram que os níveis de emigração não devem recuar para valores inferiores aos registados no período anterior à crise, porque, entretanto, se criaram laços, redes de contactos e novos destinos. O Observatório da Emigração ainda não tem estimativa para o número de saídas em 2018, mas no ano anterior rondavam as 85 mil.
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