Greve geral em França. “É a luta final”. Um grupo de estudantes canta, em Paris, a “Internacional” na Praça da República. Outros, militantes de esquerda, garantem que chegou o momento da “conjugação das lutas”. A greve geral contra o projeto governamental de revisão do sistema de reformas paralisou a França e promete durar.
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Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro
As manifestações começaram na capital francesa ao início da tarde, mas há cerca de 250 em todo o país. Em Nantes, Bordéus e Lyon, já se verificaram, de manhã, incidentes com a polícia.
Os sindicatos anunciam centenas de milhares de pessoas mobilizadas no primeiro dia da greve geral contra a revisão do sistema de cálculo das pensões de reforma.
Em nome de uma desejada universalidade do sistema e do fim de 42 regimes especiais de reforma, o Governo pretende substituir o método atual de repartição solidária das reformas entre gerações pelo de “pontos”, calculados anualmente, com base nos descontos dos assalariados e dos défices das contas públicas e da segurança social.
A greve está a afetar seriamente o setor dos transportes terrestres (apenas 10 por cento dos comboios, metropolitanos e autocarros foram assegurados até ao início da tarde em todo o país) e também aeroportos, hospitais, escolas, creches, docas, repartições públicas e, até, museus e a Torre Eiffel, que foi obrigada a fechar devido ao movimento.
Alguns dos militantes da esquerda “não alinhada”, que estavam reunidos ao princípio da tarde de hoje na Praça da República, à espera de um imenso cortejo de manifestantes vindo de estações de caminho de ferro vizinhas, sonhavam com a “conjugação das lutas”, segundo disse um deles ao Expresso.
A “conjugação das lutas” é uma das grandes preocupações do Governo, que receia a convergência dos protestos, designadamente com a participação dos “coletes amarelos” e também dos desempregados, que têm também uma manifestação marcada para o próximo sábado em Paris.
Na Praça da República, alguns estudantes grevistas cantavam a “Internacional” e gritavam em coro: “É a luta final”. Empunhando bandeiras vermelhas e negras, estes jovens faziam lembrar célebres lutas do século passado, não só em França, mas também em Portugal.
O Governo, atualmente em duro braço de ferro com os sindicatos, espera para reagir ao visivelmente muito forte movimento de hoje. Mas é certo que a greve vai continuar nos próximos dias.
Um porta-voz do ministério dos Transportes indicou esperar por problemas idênticos aos desta quinta-feira (designadamente a paralisação quase total no setor) pelo menos até segunda-feira. A greve geral foi convocada pelas principais centrais sindicais por tempo indeterminado.