Jean Castex, a escolha de Emmanuel Macron para primeiro-ministro que surpreendeu a França. Presidente pretende relançar última fase do seu mandato e chegar às presidenciais de 2022 com um militante da direita amigo de Nicolas Sarkozy. Mudança na continuidade.
Por Daniel Ribeiro
A escolha do substituto de Édouard Philippe foi uma autêntica surpresa. Muito pouco conhecido em França, Jean Castex é um alto funcionário de 55 anos formado nas grandes escolas francesas, originário do Gers, na Gasconha, onde é presidente de uma pequena câmara rural occitana (Prades, onde foi reeleito na primeira volta das recentes eleições municipais com 75% dos votos).
Qualificado por quem o conhece como homem calmo, simpático, caloroso e trabalhador, guarda um forte sotaque regional, e é próximo do antigo presidente, Nicolas Sarkozy, de quem chegou a ser, já no fim do mandato deste último, secretário geral adjunto no Eliseu.
Este foi um dos postos mais altos que ocupou até agora nas áreas do poder, em Paris, a par de dois cargos de grande responsabilidade nos domínios da saúde e do trabalho como diretor de gabinete de Xavier Bertrand, outro homem da direita de quem se diz ser um provável candidato deste setor às próximas presidenciais francesas.
Foi com Bertrand que delineou um plano, na altura considerado eficaz, para combater o vírus H5N1. Ganhou aí os galões do “homem dos dossiês complexos” e foi por isso que foi nomeado recentemente por Édouard Philippe como o “senhor desconfinamento” para coordenar a saída gradual e faseada do país da pandemia do Covid-19, que atacou e ainda ataca duramente o país.
É um “republicano” (do partido de direita, Os Republicanos, criado por Sarkozy), tal como era o seu antecessor, Édouard Philippe que, este, também se mantém de direita e nunca aderiu ao partido liberal A República em Marcha (LREM) de Emmanuel Macron, que perdeu com estrondo as recentes autárquicas.
Em Paris, garante-se que Castex terá já suspendido as suas funções no partido Os Republicanos, tal como fizera Édouard Philippe quando da sua designação como primeiro-ministro.
Durante as suas passagens pelos ministérios da Saúde e do Trabalho, manteve contactos com os sindicatos, que o consideram como um homem aberto com quem “se pode discutir”.
Tem a alcunha de “canivete suíço” por tomar as decisões com calma, mas de forma decisiva, sem hesitações. Foi também apoiante de François Fillon, o antigo primeiro-ministro que hoje poderia estar no lugar de Macron se não tivessem sido revelados escândalos que o impediram de chegar ao Eliseu.
Emmanuel Macron escolheu-o para relançar a última fase do seu mandato e chegar nas melhores condições possíveis às presidenciais de 2022. Os amigos de Castex, sobretudo Xavier Bertrand, apreciam-no. “Tem qualidades como servidor do Estado que serão indispensáveis nos momentos difíceis que vamos conhecer…. Que elas (essas qualidades) possam corrigir as más escolhas do Presidente da República”, escreveu Bertrand nas redes sociais.
Também Valérie Pécresse, presidente da região de Paris e igualmente figura de proa da direita o elogiou e, felicitando-o pela nomeação, disse-lhe que o país necessita de mais “autoridade e firmeza” nas decisões.
Antes de aceitar o posto de primeiro-ministro Castex telefonou aos seus dois mais importantes mentores políticos – Bertrand e Sarkozy. Também Édouard Philippe o apreciará. Este dizia dele, há algumas semanas, que ele era um homem que tinha a sua “total confiança”.
A sua nomeação inquieta a direita (por ser uma baixa em tempo de vacas magras) e não agrada à esquerda, onde alguns o apreciavam. Manteve contactos estreitos e de alguma proximidade com autarcas deste último setor durante a aplicação do seu plano de desconfinamento do país que, até agora, tem dado resultados positivos.
Está agora a escolher os seus ministros, desdobra-se em contactos, mas arranjou teve tempo para escrever uma carta aos seus eleitores de Prades onde diz: “meço a imensidão das tarefas que me esperam”.
Já tomou uma decisão: nomeou Nicolas Revel como diretor do seu gabinete em Matignon (residência do chefe do Governo), um socialista moderado que já trabalhou com François Hollande no Eliseu e na câmara de Paris com Bertrand Delanoë.