Inéditos de Amália gravados em Paris são editados dia 23. Uma caixa com cinco CD com gravações inéditas de Amália Rodrigues (1920-1999) em Paris é editada no próximo dia 23, quando a fadista completaria 100 anos, no âmbito da edição da discografia integral da fadista.
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Apesar de ter atuado por todo o mundo, o Olympia, em Paris, foi fulcral para a carreira de Amália, que, em várias entrevistas, se referiu à capital francesa como a rampa de lançamento do seu prestígio internacional. « De Paris parti para o mundo », afirmou a fadista.
Em junho de 1956, uma revista portuguesa relatava deste modo o êxito da fadista na capital francesa: « Amália canta, e Paris acredita! A nossa Amália andou ao colo de Paris como se fosse um bebé gorducho e bonito que faz gracinhas. Em toda a parte, e em todos os seus espectáculos no Olympia bastava-lhe chegar…e logo se espalhavam sorrisos de simpatia, expressões de curiosidade, de admiração, talvez algumas de ciúme. Porque Amália é uma espécie de Casanova intelectual… ».
E a mesma publicação acrescentava: « Os franceses ouvem a Amália desde que começou a correr nos écrans de Paris, o filme ‘Les Amants Du Tage‘. O ‘microsillon‘ da Amália que concentra dez trechos dos melhores do seu reportório, existe em todas as emissoras, nos juke-box dos bares e em todas as casas onde há um pick up [gira-discos] ».
O jornalista, Olavo d’Eça Leal, realçou ainda as « muitas solicitações » da artista que « em dez » tinha « de esquivar-se a nove ». « O quadrante do relógio não lhe permite agir de outro modo », justificava Eça Leal.
Referindo-se à atuação para emigrantes portugueses em 1964, o responsável pela edição discográfica, Frederico Santiago, afirmou à agência Lusa que « é um exemplo de como Amália não só atuava nas grandes salas como, muitas vezes graciosamente, cantava para associações de portugueses ».
Entre os temas gravados neste conjunto de cinco CD, cite-se « Fado Madragoa« , « Sempre que Lisboa Canta », « Fado do 31 », « Perseguição », « Trepa no Coqueiro » ou « Cansaço ».
Frederico Santiago realçou que « apesar de ser já um verdadeiro mito em Portugal, foi o triunfo parisiense, em 1956, que fez o mundo de então reconhecer em Amália uma das maiores cantoras do século ».
« Paris e o seu público conseguiram sempre mitificar ainda mais os grandes artistas. Foi assim com Chopin e Bellini, na década de trinta do século XIX, foi assim com Amália e Maria Callas, nos anos cinquenta do século XX e seria ainda assim com os próprios Beatles, em 1964″, referiu Santiago.
O estudioso de fado Luís de Castro, da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, afirmou que esta caixa « dá uma perspetiva da fulgurante carreira de Amália que se destacou não só pela exuberante voz como pela capacidade criativa de interpretar cada tema, nunca sendo igual, dando-lhe a sua capacidade imaginativa ».
« Amália foi a nossa maior intérprete, não só pela carreira internacional ímpar, mas pela capacidade de ser sempre nova e surpreendente em cada interpretação dos fados, cuja melodia há muito era conhecida », afirmou.
A edição inclui um livro com fotografias inéditas, uma cronologia das atuações de Amália na capital francesa, e um texto do historiador Jorge Muchagato, que assinou outros textos sobre a fadista.