O Boavista conquistou o único título de campeão da I Liga portuguesa de futebol há 20 anos, replicando uma proeza exclusiva do Belenenses, que, 55 anos antes, se intrometera na hegemonia de Benfica, FC Porto e Sporting.
Em 18 de maio de 2001, os ‘axadrezados’ venceram na receção ao já despromovido Desportivo das Aves (3-0), com um autogolo de José Soares e tentos dos brasileiros Elpídio Silva e Whelliton, confirmando o cetro a uma jornada do final do campeonato.
Depois de cinco Taças de Portugal e três Supertaças, o Boavista lograva erguer o maior troféu do futebol nacional em 117 anos de história, com 23 vitórias, oito empates e três derrotas, uma das quais nas Antas, à 34.ª e última ronda, já com a festa consumada.
Esse ‘Boavistão’ de Jaime Pacheco proporcionou meses de grande frustração nas hostes dos três clubes mais titulados do futebol português, que fixaram um recorde conjunto de 26 desaires, suplantando o então recorde vigente de 20 na longínqua época de 1949/50.
O Boavista contabilizou 77 pontos, um acima do FC Porto, segundo, que se ressentiu da venda do brasileiro Mário Jardel – ‘artilheiro’ da I Liga de 1996 a 2000, e, depois, em 2001/02 – aos turcos do Galatasaray e ficou-se pelo triunfo na Taça de Portugal, numa final com o Marítimo (2-0).
Quebrado um ‘jejum’ de 18 anos, o Sporting partia como principal favorito ao título e viu João Vieira Pinto mudar-se da Luz para Alvalade, mas nunca alcançou o topo, falhou o ‘bicampeonato’, que persegue desde 1953/54, e terminou em terceiro, com 62 pontos.
Já o Benfica, selou a sua pior época de sempre, em sexto, com 54 pontos, atrás de Sporting de Braga (quarto, com 57) e União de Leiria (quinto, com 56), ficando ausente das provas continentais pela primeira vez desde 1959/60, época anterior ao primeiro cetro europeu.
A equipa de Jaime Pacheco teve um arranque irregular e, apesar de ter derrotado as ‘águias’ (1-0), era sétima à sexta jornada, na qual o Sporting de Braga, líder desde a terceira, foi superado pelo FC Porto, que, à 12.ª, já tinha mais oito pontos face ao rival citadino.
Afastado na segunda eliminatória da Taça UEFA pela Roma, que se sagraria campeã italiana em 2000/01, o Boavista empatou nessa ronda em Alvalade (0-0), mas, logo a seguir, capitalizou a derrota ‘azul e branca’ em Braga (2-1) na receção ao Alverca (5-1).
Se os ‘axadrezados’ encarrilaram três vitórias seguidas, incluindo o regresso aos triunfos fora ao fim de quase quatro meses (2-0 ao Gil Vicente, à 14.ª jornada), o FC Porto voltou, uma semana depois, a perder, em Leiria (3-1), e encurtou a vantagem para dois pontos.
O dérbi da Invicta assinalou o final da primeira volta em 13 de janeiro de 2001, em pleno dia de abertura do evento Porto – Capital Europeia da Cultura 2001, quando um golo solitário de Martelinho assinalou a passagem de testemunho no comando da I Liga.
A equipa de Jaime Pacheco voltava ao lugar que dividira com vários clubes nas duas jornadas iniciais e somava 38 pontos, um acima do FC Porto, segundo, dois face ao Sporting, terceiro, seis sobre o Braga, quarto, e mais sete do que o Benfica, quinto.
O Boavista manteve a cadência na segunda metade da prova e respondeu de pronto ao desaire em Braga (3-1), único ‘carrasco’ na primeira volta, com um ‘nulo’ na Luz, à 22.ª ronda, que arruinou a recuperação do Benfica, que surgia em segundo, a dois pontos.
Se as ‘águias’ já distavam 11 pontos do topo três jornadas depois, as ‘panteras’ juntaram outros tantos triunfos e beneficiaram nesse fim de semana da igualdade a duas bolas entre ‘dragões’ e ‘leões’, que deixou ambos a seis pontos da formação do Bessa.
Essa vantagem foi reduzida logo a seguir para quatro com um empate no Marítimo (1-1), ‘carrasco’ nas meias-finais da Taça de Portugal, à 26.ª jornada, quando João Loureiro assumiu a candidatura ao título, depois de ter conversado com treinadores e jogadores.
Com sete vitórias seguidas, o Boavista afastou o Sporting da corrida à 29.ª jornada (1-0), com Martelinho de novo em evidência, e resistiu à pressão do FC Porto, que seguia na expectativa de algum deslize alheio para poder selar o título no segundo dérbi da época.
Tal não sucedeu e a equipa das ‘camisolas esquisitas’, epíteto projetado além-fronteiras nos anos noventa, eternizava um conto aos quadradinhos ‘axadrezados’ repleto de tostões, alma guerreira e superação numa cidade afeiçoada a festejar de azul e branco.
Pacheco apostou no tradicional 4-3-3, privilegiando os defesas Rui Óscar, Litos, Pedro Emanuel e Erivan à frente do guarda-redes Ricardo, os médios Petit e Rui Bento na cobertura a Erwin Sánchez e os alas Martelinho e Duda perto do avançado Whelliton.
O Boavista serviu-se da defesa menos batida face às cinco principais Ligas europeias (22 golos sofridos), das bolas paradas de Erwin Sánchez (10 tentos e 10 assistências) e do ‘pistoleiro’ Silva (11), longe dos 22 de Pena (FC Porto), ‘artilheiro’ desse campeonato.
As ‘panteras’ seriam vice-campeões na época seguinte, atrás do Sporting, repetindo 1998/99 e 1975/76, e somariam a terceira presença na Liga dos Campeões em 2002/03, numa época em que atingiram as meias-finais da Taça UEFA, arrebatada pelo FC Porto.
Na presidência desde 1997, em substituição do seu pai, Valentim, João Loureiro amealhava o título da I Liga à Taça de Portugal (1996/97) e à Supertaça (1997), além de ter vencido campeonatos nacionais em todos os escalões jovens e no futebol feminino.
A era dourada do Boavista seria abalada por influências judiciais, que afastaram o então líder máximo de 2007 a 2013, administrativas, ditando a descida à II Liga em 2008, no âmbito do processo ‘Apito Final’, revertida seis anos depois, e financeiras, na origem de uma travessia de cinco épocas (de 2009/10 a 2013/14) pelas divisões não profissionais.
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Com Agência Lusa.