O filme « O fim do Mundo », de Basil da Cunha, chega hoje às salas francesas de cinema, podendo ser visto um pouco por todo o país, com o realizador a lembrar a dificuldade de vencer o « engarrafamento de filmes », após a pandemia.
« É super importante o filme estrear-se aqui [em França], porque é o país do cinema. É um país muito ligado à cultura e claro que, como realizador, o que eu quero é partilhar aquilo que eu vejo com o máximo de pessoas possível, e é essencial passar por França para passar a outros países », afirmou Basil da Cunha, em declarações à agência Lusa.
O realizador luso-suíço está em França para acompanhar a estreia do filme « O fim do Mundo », tendo participado na noite de terça-feira na antestreia no cinema Le Méliès, em Montreuil, numa sessão que reuniu dezenas de espectadores, muitos deles de origem portuguesa e cabo-verdiana.
« Há cinemas em que o público é mais burguês, com uma compreensão diferente das temáticas do filme. A receção é boa, mas sinto que há alguma distância com a realidade da cultura portuguesa e cabo-verdiana. Houve outras projeções em que houve um grande apoio da comunidade cabo-verdiana », explicou o realizador.
« O fim do Mundo » conta a história de Spira, um jovem que regressa ao bairro da Reboleira, na Amadora, depois de ter passado oito anos numa casa de correção. É no bairro que reencontra a família e os amigos de infância e tenta a reintegração entre os que lá moram.
Devido ao realismo do filme e ao facto de os atores e atrizes serem moradores do bairro, várias pessoas em Montreuil questionaram Basil da Cunha, depois da projeção sobre a veracidade da narrativa relatada no filme, com o realizador a explicar que, apesar de se inspirar em histórias do bairro, o filme seguiu um guião.
O filme estreia-se em França em várias salas em Paris, Nice, Agen, La Rochelle, Le Havre, Lyon, Montpellier e Toulouse, com Basil da Cunha a considerar ser uma sorte ter uma saída tão ampla, já que, devido à pandemia, há uma longa fila de filmes à espera para se estrearem.
« O processo para estrear em França foi complicado, porque há um ‘engarrafamento’, há muitos filmes a terem de sair agora e é uma sorte termos tantas salas », detalhou.
O realizador está já a finalizar o seu próximo filme, « Manga Terra », que ainda está em processo de montagem, mas deve estar concluído dentro de alguns meses, seguindo depois a rota dos festivais, como Locarno ou Berlim.
« É um filme que mostra a força e o poder que as mulheres têm no bairro, das várias gerações de mulheres. Há uma personagem que vem de fora e que permite ao espectador identificar-se e descobrir o bairro com ela. Mostra o que é ser uma mulher de 20 anos, num bairro onde a masculinidade é forte e onde as mulheres sofrem uma dupla ou tripla opressão », explicou.
« O fim do Mundo » conquistou o Grande Prémio da Cidade de Lisboa do Indie Lisboa, assim como o prémio de melhor cinematografia no Festival Les Arcs, tendo concorrido ao Leopardo de Ouro no Festival de Locarno. Em França, este filme é distribuído pela Urban Distribution.
Com Agência Lusa.