Depois de designar Élisabeth Borne, próxima dos socialistas até 2017, para primeira-ministra, o Presidente francês chamou figuras com peso na direita clássica e moderada para o primeiro Executivo do seu segundo mandato.
O novo Governo francês é interino (até ao fim das eleições legislativas de 12 e 19 de Junho) e é, também, de continuidade. Se Jean Castex deu lugar a Élisabeth Borne na chefia da equipa ministerial, esta conserva nomes como Bruno le Maire (direita moderada), na pasta da Economia e das Finanças. O mesmo acontece com Gérald Darmanin, que continua a comandar a Administração Interna.
E entram mais nomes de direita para postos importantes no novo Governo.
A grande novidade é a nomeação, para os Negócios Estrangeiros, de Catherine Colonna, histórica chiraquiana (direita neogaullista), até agora embaixadora no Reino Unido e antiga ministra dos Assuntos Europeus e porta-voz do falecido Presidente, Jacques Chirac.
Neste último pelouro (dos Assuntos Europeus) permanece Clément Beaune, como ministro-delegado.
O elenco inclui outros novos nomes da direita, como Damien Abad (Solidariedade).
No entanto, uma das grandes surpresas do novo Executivo é a nomeação do historiador Pap Ndiaye, diretor do Museu da Imigração, para o Ministério da Educação. É conotado com a esquerda moderada (é um dos poucos deste setor, além de Brigitte Bourguignon, na Saúde).
A constituição do novo executivo acontece a poucas semanas das legislativas de 12 e 19 de junho, nas quais Emmanuel Macron enfrenta o partido de Marine Le Pen (Reagrupamento Nacional, extrema-direita) e a recentemente constituída frente de esquerda Nova Unidade Popular, dirigida por Jean-Luc Mélenchon, que integra a França Insubmissa (esquerda radical), ecologistas, comunistas e socialistas.
O novo Goveno, na realidade, é interino. A chamada “maioria presidencial” (vasta “nebulosa” política que integra centristas, sociais-democratas, direita e alguns socialistas) necessita de vencer as próximas legislativas para conservar o poder.
Mas, em consonânica com a tradição, ss sondagens são favoráveis aos aliados de Emmanuel Macron, que pode conquistar uma maioria absoluta. O seu partido A República em Marcha, rebatizado de Renascimento, quer repetir o feito das legislativas de 2017.
Nas eleições para a Assembleia Nacional (AN), que decorrem sob o sistema eleitoral tradicional francês – uninominal, maioritário, a duas voltas –, o partido de Le Pen poderá ser o grande prejudicado.
Depois de ter disputado a segunda volta das presidenciais com Macron, a extremista poderá ficar apenas em terceiro lugar na AN, atrás da “frente popular de esquerda” de Mélenchon, que é “eurocético” e pode vir a ser a principal força de oposição.
No fundo, a formação do novo Governo representa Emmanuel Macron, no seu melhor: acena à esquerda moderada (aos destroçados socialistas, que não gostam de Mélenchon) e à direita clássica, cujo partido « Os Republicanos », caiu em crise profunda depois do descalabro da sua candidata nas recentes presidencais.
De facto estamos perante Macron no seu melhor. Ele poderá ter encontrada a receita para vencer as Legislativas.