Árbitro João Pinheiro defende castigos mais pesados para quem critica arbitragens

Foto. João Pinheiro arbitra final da Taça de Portugal - Agência Lusa.

O árbitro de futebol João Pinheiro, primeiro classificado das duas últimas épocas, defendeu hoje castigos mais pesados, à semelhança de outros países europeus, para quem faça críticas às arbitragens em Portugal.

“Incomoda-me ver constantemente a não punição das coisas. Vamos a outros países e, se um treinador ou um dirigente fala mal da arbitragem, é punido com multas pesadas, suspensão ou penas que sejam significativas. Lembro-me do caso do treinador do Arsenal [Mikel Arteta] que foi punido com dois jogos de suspensão e uma multa três dias depois de ter criticado publicamente um árbitro. Não vai deixar de falar, mas, se calhar, pensa duas vezes. [Em Portugal] Falamos de dinheiro que, para eles, é um dia ou uma tarde [de salário]. Continuamos a fazer de conta que as coisas não acontecem. Punimos passados uns meses, depois há recursos e suspende-se esse castigo”, apontou, em entrevista à Rádio Universitária do Minho (RUM), no programa ‘Rum(o) Desportivo’.

De resto, João Pinheiro lembrou críticas a seu respeito: “Chegaram a dizer que ‘este árbitro devia ser preso’, como se isso fosse normal”.

“Estamos num mundo completamente à parte. Deixei de ver alguns programas televisivos porque aquilo era masoquismo, estava ali a sofrer. As pessoas dizem barbaridades acerca da pessoa, não do árbitro. Dizer que sou incompetente, que sou mau árbitro, que não acerto e não vejo nada, não me incomoda, mas que sou corrupto e que faço as coisas de propósito para beneficiar um ou outro, isso incomoda-me. Enquanto não houver uma punição para isso, as pessoas continuam”, lamentou.

João Pinheiro foi o árbitro com melhor classificação atribuída pelo Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol na última época, repetindo o primeiro lugar de 2020/21, prémios que considera serem o “melhor momento” da carreira até hoje.

“Ficar à frente de grandes árbitros, como o Artur Soares Dias, para mim o melhor árbitro português, um árbitro da elite da UEFA, ou Luís Godinho, António Nobre, Fábio Veríssimo, Tiago Martins, Manuel Mota – que é algo desvalorizado por vezes -, temos tantos bons árbitros, é um motivo de orgulho. Tinha o sonho de ser o primeiro classificado, nunca pensei que seria tão cedo, mas agarrei a oportunidade”, disse.

João Pinheiro defendeu a necessidade de se “desmistificar” a imagem dos árbitros e, para isso, ser necessário uma maior abertura, com idas a escolas para falar com os alunos ou em entrevistas a meios de comunicação social.

Contudo, questionado sobre se seria benéfico ou prejudicial os árbitros falarem no final dos jogos, como jogadores e treinadores, numa lógica de ‘flash-interview’ ou até conferência de imprensa, João Pinheiro considerou ser uma pergunta de difícil resposta, lembrando experiências noutros países que “não correram bem”, temendo descontextualizações das explicações dos ‘juízes’.

O árbitro de 34 anos, da Associação de Futebol de Braga, lembrou, a esse propósito, o facto de, “cada vez mais se falar em as comunicações entre o videoárbitro [VAR] e o árbitro serem públicas, tal como já acontece no râguebi”, considerando que isso acontecerá num “futuro muito próximo”.

Estreado em 2017 em Portugal, o VAR veio melhorar “claramente” a verdade desportiva, considerou o árbitro natural de Barcelos.

“Só quem for muito injusto e não for minimamente honesto é que acha que o VAR não veio melhorar as coisas. Tínhamos situações claras em campo que o árbitro não conseguia ver, porque eram lances difíceis. Perfeito não é e nunca vai ser, porque é um homem, e não vai deixar de o ser, que está a ver no VAR”, frisou.

João Pinheiro admitiu o “papel fundamental” da nova ferramenta, mas frisou a dificuldade de o exercer.

“Ser VAR não é fácil porque entramos naquela linha de intervenção de saber se um erro é claro e óbvio, ou não. Para 50 pessoas esse erro é claro e óbvio, para outras 50, não é. Aí, entra a grande dificuldade do VAR, porque ele está feito para erros claros e óbvios e não, por assim dizer, para as melhores decisões”, referiu.

 

Com Agência Lusa.

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