A Comissão Europeia quer a União Europeia (UE) “preparada para o pior cenário possível” de crise energética, alertando que este inverno “não será fácil”, dados os preços elevados e as eventuais ruturas no fornecimento de gás à Europa.
“Trabalhámos incansavelmente ao longo dos últimos meses para reforçar a nossa segurança de aprovisionamento através da diversificação, a implementação de uma política de armazenamento comum e o início da redução preventiva da procura de gás e eletricidade de uma forma coordenada, mas não devemos ser demasiado complacentes [porque] este não vai ser um inverno fácil”, afirma em entrevista escrita à agência Lusa a comissária europeia da Energia, Kadri Simson.
Na entrevista concedida por escrito precisamente devido às várias deslocações de Kadri Simson no quadro da atual crise energética, a responsável argumenta que, “com os novos instrumentos, a UE está certamente num lugar muito melhor do que estava até há alguns meses”.
“Encorajo os Estados-membros a continuarem os seus esforços para poupar e armazenar o máximo de gás possível”, salienta.
No dia em que divulga novas medidas para a UE enfrentar os elevados preços da energia e eventuais ruturas no fornecimento de gás, Kadri Simson diz à Lusa que todos os pacotes já propostos contêm “instrumentos para, precisamente, evitar o caos e minimizar os riscos” perante corte no abastecimento russo.
“Estamos também a intensificar o nosso trabalho em matéria de preços. Os Estados-membros acabam de concordar com uma intervenção de emergência no mercado da eletricidade e vamos em breve avançar com outras propostas para continuar a melhorar a nossa preparação, tendo sempre presente que devemos estar preparados para o pior cenário possível”, destaca a responsável.
As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu desde logo porque a UE depende dos combustíveis fósseis russos, como o gás, e teme cortes no fornecimento este inverno.
Nos últimos meses, Bruxelas já avançou com medidas como diretrizes aos países para apoiarem os cidadãos devido ao impacto dos preços elevados da energia, obrigações mínimas de 80% de armazenamento de gás na UE, metas de redução de 15% do consumo de gás e de 10% de eletricidade, tetos temporários de 180 euros por Megawatt-hora para eletricidade produzida a partir de fontes como renováveis e nuclear, taxação de 33% sobre os lucros extraordinários das empresas de petróleo, gás, carvão e refinarias e ainda a possibilidade de declarar emergência perante corte de gás russo.
Falando sobre as medidas adotadas, Kadri Simson refere que, através da caixa de ferramentas com orientações, a Comissão Europeia deu “a todos os Estados-membros um vasto conjunto de instrumentos para poderem enfrentar o impacto dos preços elevados da energia, especialmente nos clientes vulneráveis, tanto famílias como empresas”.
“Recentemente, adotámos também novas medidas que permitiriam a todos os Estados-membros recolher receitas excedentárias do setor energético e redistribuí-las aos consumidores que enfrentam preços de energia excecionalmente elevados”, lembrou.
Já questionada sobre os apoios anunciados em Portugal, Kadri Simson adianta “partilhar do objetivo do Governo português de apoiar os consumidores vulneráveis”, embora avisando ser “fundamental que as medidas adotadas sejam bem orientadas para os mais necessitados e que não conduzam a um aumento do consumo de energia”.
Hoje, a Comissão Europeia vai propor a criação de instrumentos legais para compras conjuntas de gás pela UE, mas que só deverá avançar na primavera de 2023, bem como um mecanismo temporário para limitar preços na principal bolsa europeia de gás natural e regras de solidariedade na UE para disponibilização de gás a todos os Estados-membros em caso de emergência, segundo o rascunho das propostas a que a Lusa teve acesso.