1,2 milhões de pessoas já sofreram discriminação em Portugal, em particular as ciganas

Mais de 1,2 milhões de pessoas (16,1%) já sofreram discriminação em Portugal, especialmente as pessoas ciganas (51,3%), revelou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Seguem-se as pessoas negras (44,2%) ou “com pertença mista” (40,4%), de acordo com os resultados do Inquérito às Condições de Vida, Origens e Trajetórias da População Residente em Portugal (ICOT), apresentado pelo INE como um projeto estatístico inédito em Portugal.

A discriminação afetou também os desempregados (24,9%), os mais jovens (18,9%), pessoas escolarizadas (18,3%) e mulheres (17,5%), de acordo com as categorias estabelecidas pelo INE. O grupo étnico, a cor da pele, a orientação sexual e o território de origem constituem “os fatores mais relevantes” na discriminação percebida e testemunhada, segundo a mesma fonte.

O inquérito teve início em janeiro, com vista a abranger mais de 35.000 habitações, para abordar, entre outras questões, a origem étnico-racial das pessoas que residem em Portugal há pelo menos 12 meses, e surge depois de o organismo ter decidido não incluir nos Censos 2021 uma pergunta sobre essa matéria, como pretendia a maioria dos membros do grupo de trabalho criado em 2019 pelo Governo para avaliar a questão.

De acordo com os resultados do trabalho, as pessoas entre os 18 e os 74 anos identificaram-se, ao nível da origem ou pertença étnica, do seguinte modo: 6,4 milhões com o grupo étnico branco; 169,2 mil com o grupo negro; 56,6 mil com o grupo asiático; 47,5 mil com o grupo étnico cigano; e 262,3 mil com o grupo de origem ou pertença mista.

Em Portugal, 1,4 milhões de pessoas têm um percurso imigratório, sendo 947,5 mil imigrantes de primeira geração, mais representados nas regiões do Algarve (31,0% e 24,2%, respetivamente) e Área Metropolitana de Lisboa (29,2% e 18,8%, respetivamente).

“A população que se identifica com os grupos étnicos negro, asiático e origem ou pertença mista apresenta as maiores proporções de background imigratório (90,3%, 83,7% e 69,2%, respetivamente)”, lê-se no documento.

A maioria dos imigrantes de primeira geração (65,2%) reside em Portugal há mais de 10 anos. As razões familiares e profissionais são “determinantes na vinda para Portugal”. Mais de três quartos (76,3%) afirma ter um sentimento de ligação a Portugal forte ou muito forte. Pouco mais de metade (53,5%) tem o mesmo sentimento relativamente à Europa.

“A população com background imigratório e os imigrantes de primeira geração apresentam maior ligação a Portugal do que ao país de origem da família ou ao país onde nasceram”, sublinharam os estatísticos.

Mais de 4,7 milhões de pessoas dos 18 aos 74 anos estavam empregadas (62,4%), com destaque para os grupos étnicos origem ou pertença mista (67,9%), negros (64,3%) e brancos (62,9%).

“Mais de dois milhões de pessoas tiveram necessidade de trabalhar enquanto estudavam e 1,7 milhões foram forçadas a abandonar os estudos mais cedo do que gostariam”, constataram os autores do trabalho.

Além de português, 486,4 mil pessoas falavam outra língua em casa até aos 15 anos. “Atualmente, 661,7 mil falam português em casa e outra língua”.

As línguas de outros países europeus e línguas ou dialetos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) estão entre as mais faladas.

A população do âmbito etário de referência do inquérito reside maioritariamente na região Norte (35,5%), seguida da Área Metropolitana de Lisboa (27,3%) e da região Centro (21,2%).

“A distribuição geográfica da população de acordo com o grupo étnico permite observar, no entanto, um padrão de distribuição no território diferente: enquanto a população que se identifica com o grupo branco segue o padrão observado na população total, a população que se identifica com os grupos negro (69,9%), origem ou pertença mista (48,4%) e asiáticos (34,7%) concentra-se maioritariamente na Área Metropolitana de Lisboa”, especificou o INE.

Cerca de três quartos da população (74,3%) reside em áreas predominantemente urbanas, “onde se destacam particularmente, com valores superiores à média, os seguintes grupos étnicos: negro (91,7%), origem ou pertença mista (88,7%) e asiático (80,3%)”.

Rádio Alfa com Lusa

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