Greve geral em França. Sob pressão, Governo acelera negociações

Greve geral em França. Sob pressão, Governo acelera negociações. França está mesmo em greve geral contra a revisão do sistema das pensões de reforma. Depois do êxito de mobilização do primeiro dia de greve (800 mil pessoas nas ruas, segundo números oficiais), hoje é dia de assembleias gerais por todo o país. Greve prossegue, manifestações também, e Governo começa a recuar.

Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro

Bastou a este repórter um pequeno “passeio” matinal na capital francesa para constatar a realidade de que a greve geral saiu reforçada do primeiro dia (ontem), de paralisação quase total do país, onde decorreram imensos protestos nas ruas (sindicatos avançam com 1,5 milhões de manifestantes, o Governo com 800 mil).

Hoje, continua a verificar-se uma penúria quase total de transportes públicos, começa mesmo a faltar gasolina nas bombas, e há assembleias gerais de assalariados por todo o lado. Em Paris, as reuniões até decorrem em estações das linhas do metropolitano, como constatou o Expresso nos ramais números 6 e 9. Em todas se vota, por unanimidade e com um visível entusiasmo, pela continuação da greve e por mais manifestações.

As direções das principais centrais sindicais também apelaram, hoje, ao fim da manhã, ao endurecimento da greve e ao reforço das manifestações, designadamente para um novo “dia negro”, provavelmente mais forte do que o de ontem, na terça-feira, 10, véspera de uma anunciada “comunicação ao país” do primeiro-ministro, Édouard Philippe.

Amanhã, sábado, também decorrerão novas manifestações, designadamente em Paris, com os “coletes amarelos” e os desempregados a entrarem num movimento que os mais ousados desejam “revolucionário e de conjugação das lutas e dos descontentamentos contra Macron”, que continua a ser considerado como sendo o “presidente dos ricos”.

Ontem, verificaram-se incidentes em Paris entre polícia e manifestantes mais radicais, durante pelo menos três horas e o Governo, colocado sob forte pressão, começa a dar sinais de cedência.

Os sindicatos pedem a retirada do projeto de revisão do sistema de cálculo das pensões de reforma que o Governo e o Presidente Emmanuel Macron pretendem implementar – em nome da universalidade do sistema e do fim de 42 regimes especiais de reforma,  pretendem substituir o método atual de repartição solidária das pensões entre gerações pelo de “pontos”, calculados anualmente, com base nos descontos dos assalariados e dos défices das contas públicas e da segurança social.

Os sindicatos consideram que “todos os trabalhadores” vão perder direitos (e dinheiro) com a reforma do sistema e, ontem, além de funcionários públicos, ferroviários e motoristas de autocarros, viam-se também nas ruas advogados, professores, estudantes, médicos, enfermeiros, empregados de refinarias, etc.

O Governo começou já a ceder sobre os “regimes especiais”, designadamente na polícia e promete, agora, aumentos salariais aos professores.

Receando a “conjugação das lutas e dos descontentamentos” e uma revolta de muito maior envergadura no país, o executivo anunciou uma aceleração do calendário das negociações com os sindicatos e marcou uma reunião entre as duas partes já para a próxima segunda-feira.

O objetivo é tentar limitar a contestação porque para amanhã, sábado, estão marcadas novas manifestações que podem provocar incidentes e confrontos violentos e, sobretudo, porque, para terça-feira, foi convocado pelos sindicatos mais um “dia negro”, com o país de novo completamente paralisado.

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