Personalidades da extrema-direita europeia irão encontrar-se nos próximos dias 13 e 14 de maio em Lisboa « para a grande cimeira mundial da direita ». Estarão presentes André Ventura, Jair Bolsonaro ou ainda Matteo Salvini. Uma reunião organizada pelo Chega.
« Nada na política portuguesa será igual depois desta noite. Que avalanche ! Obrigado portugueses ! », proclamou André Ventura na noite das eleições presidenciais de 2021. O homem que se tornou o primeiro deputado de extrema-direita na Assembleia da República tem um objetivo claro: tornar-se Presidente.
Para alguns Portugueses, isso seria muito bom: « Claro que sim, ele pode governar, confessa Manuel ao sair de uma mercearia portuguesa na região parisiense. Se ele passar, é realmente algo de bom para Portugal. » Carismático, jovem e intransigente: essas são as qualidades destacadas pelos seus apoiantes. Um verdadeiro « Trump à portuguesa » que consegue existir num mundo político liderado há anos pelo PS e PSD.
« Caros companheiros, o grande evento da direita mundial vai colocar Lisboa no centro da direita mundial, colocar Lisboa como referência da luta contra o socialismo » afirmou André Ventura nas redes sociais, no príncipio deste mês de Abril. Em vídeo, o líder extremista afirmou ainda querer lutar « contra a ideologia de género ».
Militantes e amigos do Chega, anuncio-vos que o ex-Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, bem como o atual vice primeiro-ministro italiano, Matteo Slavini, já aceitaram o nosso convite para a grande cimeira mundial da direita, em Lisboa, nos dias 13 e 14 de Maio. Vai ser enorme! pic.twitter.com/mwohAZQZHe
— André Ventura (@AndreCVentura) April 7, 2023
Contexto europeu favorável e banalização da extrema-direita
Nas sondagens de opinião, André Ventura continua a subir. Segundo Yves Léonard, professor em Sciences-Po Paris e especialista em história portuguesa, existem vários elementos explicativos. “Existe um contexto europeu e internacional que são a normalização e a banalização dos movimentos de extrema-direita, da direita populista radical, explica Yves Léonard em exclusivo para a Rádio Alfa. Há anos que vemos isto em quase todo o mundo. »
Além disso, o governo português está num impasse com as críticas constantes sobre o Primeiro-ministro, António Costa. Sobretudo com o recente caso da TAP. Yves Léonard também considera que “o segundo combustível é a questão do cavalo branco da democracia liberal, ou seja, a denúncia da corrupção. » Acusações que não ajudem realmente o antigo comentador desportivo da CM TV, que ainda está longe de ser presidente.
André Ventura presidente? Um « risco provável »
André Ventura ainda está longe da presidência. « Ventura ainda não está lá mas é um risco provável porque ele está numa fase ascendente onde tenta assegurar, sem hegemonia ou dominação », confessa Yves Léonard. Aquele que ainda tem de usar todas as suas forças para atrair um novo eleitorado, tem também de “colocar a maioria das formações de direita sob o seu controlo, para além do PSD que é uma peça grande, mas que pode obviamente querer atacar, dadas as divisões que existem dentro desta formação. Tudo dependerá da recomposição da direita e, em particular, da reconfiguração do PSD”, insiste o historiador.
Outra abertura para o Ventura é o facto da população sentir-se negligenciada. “Há um risco que não deve ser subestimado, confessa Yves Léonard. Neste momento, a época parece ser bastante favorável a estes movimentos à escala internacional, à escala europeia.” Uma ameaça ainda mais elevada, já que o Chega se tornou a terceira força política do país – apesar de uma abstenção de 60% nas últimas eleições presidenciais. O partido “cristaliza todo um fundo de ressentimento e de cansaço, que alimenta a abstenção em Portugal.”
Marine Le Pen: uma amiga estratégica?
Para atrair os lusodescendentes, André Ventura está a aproximar-se dos líderes de outros partidos de extrema-direita, nomeadamente da francesa Marine Le Pen. « André Ventura tem proximidade e trabalha na sua inserção numa rede de extrema-direita à escala europeia, que não é o termo oficial porque nem Marine Le Pen, nem [Giorgia] Melloni, nem qualquer destas pessoas se diz de extrema-direita, nem mesmo populista de extrema-direita radical”, sublinha Yves Léonard. No entanto, os dois políticos partilhem a mesma ideologia, os mesmos métodos de funcionamento, de conceitos e de práticas. “O facto de ter este tipo de perfil e esta personalidade é uma verdadeira escolha de carreira”, sublinha Yves Léonard.
Portanto, André Ventura não está prestes a deixar a política. A comunicação do deputado de extrema-direita nas redes sociais e na imprensa prova que, tal como Donald Trump, André Ventura pretende existir e dar que falar em Portugal.