Uma das exposições mais aguardadas da Temporada Cruzada França-Portugal abre sexta-feira no Museu do Louvre, em Paris, com 13 obras da pintura portuguesa dos séculos XV e XVI a lembrarem a importância deste período da arte portuguesa.
« É um verdadeiro evento e estamos muito reconhecidos ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) de ter feito viajar estes tesouros, porque são tesouros nacionais, porque é uma maneira única de conhecer esta pintura portuguesa em França e espero que as pessoas percebam a importância desta pintura quando virem estas obras », disse Charlotte Chastel-Rousseau, conservadora de pintura hispânica do Museu do Louvre e comissária da exposição « A idade de ouro do Renascimento português », em declarações aos jornalistas.
A exposição foi inaugurada formalmente pelo primeiro-ministro português, António Costa, acompanhado pela ministra da Cultura francesa, Rima Abdul Malak, na terça-feira, mas a abertura ao público far-se-á no dia 10 de junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, ficando aberta até 10 de setembro.
Estarão expostas numa sala dedicada às novidades do departamento de pintura do Louvre obras de Nuno Gonçalves, Jorge Afonso, Cristóvão de Figueiredo, Frei Carlos ou Gregório Lopes, incluindo as portas do Retábulo de Santa Auta ou “São Vicente Atado à Coluna”.
Na visita guiada aos jornalistas, tanto Charlotte Chastel-Rousseau como Joaquim Caetano, diretor do MNAA e também comissário desta exposição, expressaram a especificidade da pintura portuguesa deste período que para além do apoio do rei Manuel I, único nas artes entre todos os monarcas portugueses, contava com influências não só vindas da Flandres e de Itália, mas também dos novos territórios que Portugal estava a explorar.
No maior museu do mundo há atualmente apenas três quadros de pintura portuguesa, uma representação « mínima », reconheceu Charlotte Chastel-Rousseau. No entanto, há razões para esta realidade que nada têm a ver com a qualidade da pintura nacional.
« A pintura portuguesa deste período não é conhecida em França. Há muitas razões por isso, desde logo a destruição do património no terramoto de 1755, que destruiu não só as obras, mas também os arquivos tornando muito difícil o estudo da arte portuguesa. Há também a questão da secularização dos mosteiros que levou a que a pintura que estava nesses sítios passasse diretamente às academias de belas artes e depois museus nacionais », explicou em declarações aos jornalistas.
Os 13 quadros presentes no Museu do Louvre vieram todos do MNAA, com Joaquim Caetano a considerar que devido à escassez de obras no mercado de arte esta é uma boa oportunidade para mostrar a arte portuguesa.
« Talvez 30 obras estejam em coleções privadas, enquanto nós temos cerca de 300. Felizmente não houve uma grande dispersão das obras portuguesas, mas o outro lado é que não temos a presença do nosso património nos principais museus do mundo e o interesse dos historiadores é pouco. Esta é então uma possibilidade muito interessante para nós de mostrar a arte portuguesa de a um público mais vasto », indicou o diretor do MNAA.
Questionada sobre a possibilidade de uma sala portuguesa no Louvre, Charlotte Chastel-Rousseau admitiu que a forma de apresentar a coleção de pintura espanhola estava a ser repensada, mas que uma sala portuguesa só poderia ser feita através de novas aquisições de obras, sendo difícil adquirir obras portuguesas no mercado de arte.
Esta exposição decorre no quadro da Temporada Portugal-França, uma iniciativa de diplomacia bilateral entre Portugal e França que visa aprofundar o relacionamento cultural entre os dois países.
Com Agência Lusa.