A máquina Emmanuel Macron avariou-se. E esta terça-feira há remodelação do Governo

Presidente da França há 16 meses, Emmanuel Macron marcou pontos na Europa, mas mesmo aí é agora menos audível. Em França, está a cair de forma abrupta. Desde um escândalo, no início do verão, com o seu chefe da segurança, nada funciona. A gestão da demissão de Nicolas Hulot, única estrela do Governo, é uma calamidade. E o seu Governo nem sequer consegue levar avante uma reforma fiscal para lançar a retenção na fonte do IRS

Alfa/Expresso Diário (adaptação) – por Daniel Ribeiro

Em apuros, o Presidente francês anuncia para esta terça-feira uma remodelação do Executivo. Para Emmanuel Macron, a vida está complicada. Uma semana depois da demissão, em direto numa rádio – sem aviso prévio aos chefes do Estado e do Governo -, do ministro de Estado e do Ambiente, Nicolas Hulot, ainda não conseguiu substituí-lo.

Tentou cativar Daniel Cohn-Bendit, outra grande figura mediática do movimento ecologista francês e europeu, mas este recusou entrar no Governo.

A remodelação, provocada pela demissão de Hulot, acontece quando nem sequer se sabe se o Governo conseguirá levar por diante uma reforma fiscal para impor a retenção na fonte do imposto sobre o rendimento (IRS), programada para entrar em vigor a um de janeiro de 2019. Só também esta terça-feira se saberá se, afinal, o projeto fiscal, lançado já no mandato do ex-Presidente François Hollande, será mantido, adiado ou… pura e simplesmente revogado.

“PRESIDENTE DOS RICOS”

Fragilizado, o Presidente “reformista” continua também a ser acusado de ser o “Presidente dos ricos”. Com o crescimento económico em baixa (prevê-se 1,7% para 2019, em vez da aposta do Governo, que era de 2%), Macron procura margem de manobra orçamental na redução das ajudas sociais e, sobretudo, nas pensões da maioria dos reformados, que desde a sua entrada em funções, na primavera de 2017, viram as suas reformas cortadas.

Neste campo das pensões dos mais idosos, as sondagens são mais uma calamidade para Macron. Os reformados são esmagadoramente contra ele e, em geral, apenas 34% dos franceses têm uma opinião positiva sobre o Presidente, segundo uma sondagem do instituto BVA, divulgada na sexta-feira.

A demissão de Hulot contribuiu para reforçar a imagem de que Macron é “o Presidente dos ricos”. O ex-ministro demitiu-se quase a chorar, confessando a sua impotência face ao que chamou a força dos lóbis e a cedência do Governo a “grupos de interesses” económicos.

A “República exemplar”, prometida por Emmanuel Macron durante a campanha eleitoral para as presidenciais levou, com a demissão de Hulot, mais uma forte machadada.

A credibilidade da Presidência já tinha ficado abalada no início do verão, com “o escândalo Benalla”, do nome do seu chefe de segurança, que estaria a montar no Eliseu uma força de polícia autónoma e paralela, à margem de todas as regras da hierarquia policial e militar, bem como da democracia.

Este caso levou à demissão do seu homem de confiança para a segurança, mas teve consequências mais graves. Por causa do escândalo (Benalla foi filmado, disfarçado de polícia, a bater em manifestantes), Macron foi obrigado a adiar uma reforma constitucional, que ele considerava fundamental para avançar na via do reformismo.

“IRREDUTÍVEIS GAULESES”

A “rentrée” do Presidente, em França, está na realidade a ser muito mais complicada do que ele previa. Macron continua a ser relativamente bem visto em Lisboa, Berlim ou Copenhaga. No entanto, o ressurgimento em força dos populismos na Europa retiram eficácia aos seus já famosos ativismo, voluntarismo e protagonismo.

Contudo, ele próprio contribui, mesmo no estrangeiro, para ensombrar a sua imagem em França, onde os seus compatriotas parecem começar a duvidar da sua capacidade para ser Presidente.

Numa visita, há dias, à Dinamarca, atacou “os gauleses refratários às mudanças” e às reformas que ele propõe. Esta alusão aos “irredutíveis gauleses” de Asterix e Obelix caiu mal no país. Toda a oposição o criticou duramente, muitos acharam-no sobranceiro, e os sindicatos, que tentam organizar para as próximas semanas um movimento social contra a sua política, ficaram irritados.

A promessa de um “mundo novo”, que Macron fez ao chegar ao Eliseu, centrada na “reforma, na eficácia e no resultado”, parece ter de esperar por melhores dias.

Para já, o Presidente tem de agir como bombeiro: substituir Nicolas Hulot, remodelar sob pressão um Governo que não tem figuras conhecidas do grande público, e anunciar se a França vai ou não ter um IRS com retenção na fonte, uma medida que já tinha sido anunciada – e estava em fase de preparação com investimentos de milhões – há cerca de dois anos.

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