Abertura aos imigrantes faz justiça à identidade portuguesa – Patriarca de Lisboa

O patriarca de Lisboa, Rui Valério, em entrevista à Agência Lusa na semana em que completa um ano no cargo, Patriarcado de Lisboa, 4 de setembro de 2024. (ACOMPANHA TEXTO DE 12-09-2024) MIGUEL A. LOPES/LUSA

Abertura aos imigrantes faz justiça à identidade portuguesa – Patriarca de Lisboa

 

Entrevista de João Luís Gomes (Lusa)

O patriarca de Lisboa defendeu hoje, “para fazer justiça” à identidade do povo português, a abertura da sociedade aos imigrantes, que hoje fazem aquilo que muitos portugueses fizeram no passado.

“Eu acho, até para fazer justiça àquilo que é a nossa identidade, sob todos os pontos de vista, esta abertura a quem nos procura, que não vem para nos tirar nada”, disse Rui Valério em entrevista à Lusa, quando passa um ano desde que está no cargo.

Acrescentando que “ninguém deixa o seu lar, a sua casa, a sua família, a sua pátria, de ânimo leve, é sempre movido por uma urgência”, o bispo recordou que, muitas vezes, esta urgência nem sequer é ditada por um critério individual.

“A maior parte das vezes, [os imigrantes] vêm porque há outros que dependem da vinda e da vida deles”, disse.

Recusando comentar as clivagens que o tema das migrações provoca a nível europeu, Portugal incluído, o prelado avisou que o caminho passa por “uma abordagem não local, não nacional, mas comunitária do ponto de vista da União Europeia”.

“Se houvesse aqui uma definição política da própria União Europeia, conjunta, para abordar esta temática dos migrantes, seria uma grande ajuda, desde logo a dois níveis”.

Em primeiro lugar, a um nível prático: “sabemos que os migrantes vêm em busca de uma vida melhor, para eles e para os seus. E, por isso, são pessoas que vêm em demanda daquilo onde o ser humano se realiza mais eficazmente, que é no trabalho”.

Tendo em conta que há “países que, neste momento no Ocidente, e concretamente na Europa, têm necessidade de mão-de-obra”, Rui Valério disse que era preciso que “todos os responsáveis dialogassem e se pusessem de acordo sobre perspetivas e alinhamentos”.

“Em segundo lugar, um outro ponto que não é de somenos importância tem a ver muito com a identidade, até cultural e humanista, do próprio Ocidente, da própria Europa”, acrescentou.

Segundo Rui Valério, “a Europa tornou-se no que é hoje, uma referência, não só no campo da ciência, da tecnologia, mas até no campo dos valores, da ética, das grandes consagrações de princípio do humanismo, precisamente porque, a um certo ponto, (…) esses valores eram imediatamente irradiados, nunca foram exclusivos de uma só nação para os afirmar e para os aplicar no concreto”.

Neste contexto, e “até para a afirmação dos grandes valores éticos civilizacionalmente determinantes e construtivos, que são apanágio da Europa, era importante que houvesse uma decisão que envolvesse todos, [que houvesse] caminhos que fossem estabelecidos pela própria União Europeia”, advogou o bispo.

“Fundamental, nesta hora decisiva sob tantos pontos de vista, seria que a realidade da migração se tornasse uma oportunidade e não num problema. E para ser oportunidade, julgo que tem necessidade deste élan global da União Europeia”, acrescentou.

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