O vício está de volta: falámos com o elenco de “A Guerra dos Tronos”
“A Guerra dos Tronos” tem os dias contados e a última temporada estreia-se pela primeira vez em televisão e em streaming, no Syfy e na HBO Portugal. Em tempo de despedidas, o Expresso falou com o elenco
Alfa/Expresso. Por João Miguel Salvador. (Publicado no Expresso online no dia 13, às 23h)
O tempo é de despedidas. São as últimas entrevistas sobre o maior projeto em que estiveram envolvidos na última década. E são também as últimas emoções para aqueles que acompanham “A Guerra dos Tronos” desde o início — e recordam como a série que se tornou gigante não começou com um fulgor tão grande assim. Ou que quando leram os livros há mais de 20 anos não acreditaram que fosse possível fazer-lhe justiça no pequeno ecrã. A maior parte destes acabou por render-se à série que David Benioff e D. B. Weiss desenvolveram a partir dos livros de George R.R. Martin, ganhando permissão para ir até além destes (muito por culpa do autor, que foi adiando a escrita e lançamentos de outros volumes). Com o passar dos anos e o crescimento do sucesso, a responsabilidade também aumentou e isso é algo que todo o elenco destaca ao falar com o Expresso.
Ler os guiões da última temporada “foi um alívio”, confessa John Bradley, para quem era importante que o final estivesse em linha com o todo. “Estamos com esta história há tanto tempo que queria que o final correspondesse às expectativas. Não podemos esquecer-nos de que alguns programas bons têm finais que desiludem.” Não foi o caso. “As pessoas começaram a ler os livros nos anos 1990 e agora queríamos dar um desfecho à história.”
Desafiada a descrever os últimos meses de produção de “A Guerra dos Tronos” — cujas gravações terminaram já em julho —, Hannah Murray conta que “a atmosfera nesta última temporada era completamente eletrizante e excitante”, dando depois alguns pormenores sobre o que se pode esperar destes episódios finais. “Todas as storylines vão convergir, pelo que houve muita gente no set em cada dia. Houve um grande envolvimento de grupo.” Para lá deste, também o lado individual teve a sua importância: “Há sempre mais e mais para saber sobre cada personagem”, considera John Bradley, e isso é notório se se tiver em conta um arco narrativo desta dimensão. “Havia muito para saber sobre cada um, mas agora esse desenvolvimento ao longo de uma década acabou.” O facto de não terem sabido desde o início que “A Guerra dos Tronos” teria uma duração tão grande pode até ter dado uma ajuda na construção das personagens —“Não sabíamos que teríamos tanto tempo para desenvolver algo tão complexo como esta série”, garante Emilia Clarke (Daenerys Targaryen) —, que são hoje bem diferentes do que eram na primeira temporada.
Dizer adeus a uma personagem é sempre um desafio, mas quando está em causa quase uma década de trabalho a ligação torna-se ainda maior. “É difícil deixar os personagens, parece que os estás a abandonar. Sentes que ainda existem em algum lado”, explica o ator que deu corpo a Sam (Samwell Tarly). Gwendoline Christie (que interpretou Brienne de Tarth) teve uma experiência semelhante à de Bradley. “Fazer parte de ‘A Guerra dos Tronos’ foram oito anos da minha vida. Nunca tive algo assim. Desenvolve-se uma relação muito intensa com a personagem”, expressa, e no fim houve suor e lágrimas. Literalmente. Ao Expresso, Gwendoline Christie recorda que terá chorado durante duas horas após a sua última cena, no camarim. “É um sentido de perda gigante e senti que o devia deixar sair. Tinha a necessidade de libertar-me dela e fazer o seu luto.”
Mas nem todos reagem da mesma forma e o luto da personagem parece ter sido mais simples para Hannah Murray. “Já foi há quase um ano e eu até já estava a trabalhar num filme em simultâneo. Claro que isso ajudou a seguir em frente.” Para a atriz, a quem diziam que “nunca iria estar em nada que fosse uma referência cultural tão grande como ‘Skins’”, há sempre algo no futuro, e é assim que olha para o fim de um capítulo da carreira. Não é a única e o grande protagonista da série também sabe que em determinado momento é preciso desligar. Kit Harington, que desenvolveu a série “Gunpowder” enquanto dava vida a Jon Snow, “decidiu fazer uma peça de teatro oito dias por semana, no West End. Tens de encontrar uma saída”. E essa é a questão depois de algo desta dimensão.
Para Liam Cunningham, o Ser Davos Seaworth da ficção, trata-se de um “projeto irrepetível na carreira”, pelo que só pede uma oportunidade de fazer uma série que “seja metade desta”. Segundo o ator, “é praticamente impossível voltar a reunir uma equipa como a de ‘A Guerra dos Tronos’ numa produção com esta dimensão”. Rory McCann concorda. Considera que esteve envolvido “num dos melhores programas de televisão de sempre” pelo que há mais razões para festejar do que chorar. “Podemos estar um pouco tristes, mas cumprimos com o objetivo”, expressa o ‘Cão de Caça’.
Ao contrário do que aconteceu até aqui, a última temporada de “A Guerra dos Tronos” — que “é mesmo boa”, palavra de Daenerys Targaryen — estreia-se em Portugal também em streaming, através da recém-lançada plataforma da HBO Portugal, mas isso não impede que a estreia televisiva aconteça através do canal Syfy. Desta vez, a estreia acontece mundialmente à mesma hora em simulcast com os Estados Unidos, algo que Hervé Payan, CEO da HBO Europe, já tinha garantido (também para evitar que a pirataria disponibilize o episódio antes dos meios oficiais). Ao contrário do que se chegou a julgar, os seis derradeiros capítulos vão estrear-se ao ritmo de um por semana e o final está marcado para a noite de 19 para 20 de maio. Depois disso, a versão televisiva da criação de George R.R. Martin chega ao fim. Mas já há spin-offs a caminho.
A GUERRA DOS TRONOS
De David Benioff e D.B. Weiss
Com Emilia Clarke, Kit Harington, Peter Dinklage, Lena Headey, Maisie Williams
Syfy e HBO, estreia na madrugada de amanhã para segunda-feira, 2h
(Temporada 8)
O Expresso viajou a convite do Syfy e da HBO Portugal