
O encenador e artista plástico Robert M. Wilson, conhecido como Bob Wilson, faleceu esta quinta-feira, aos 83 anos, anunciaram os familiares.
Figura maior do teatro e da ópera, Bob Wilson construiu ao longo de décadas uma linguagem cénica absolutamente singular. Segundo o Centro de Arte de Watermill, o criador morreu «pacificamente, aos 83 anos, após uma breve mas severa doença». Autor de obras que redefiniram a noção de espetáculo — como O Olhar do Surdo (1970) — e de criações visionárias como Einstein on the Beach, Bob Wilson deixa um legado inseparável da sua vida artística.
Versátil até ao limite, Bob Wilson foi muito mais do que encenador: performer, videoartista, pintor, criador de instalações, cineasta, argumentista, coreógrafo, ator, arquiteto, dramaturgo, cenógrafo, ilustrador e mestre da luz.
A sua derradeira criação, Pessoa – Since I’ve Been Me, é um mergulho sensorial e poético no universo de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos. Em cena, um elenco internacional — com destaque para a portuguesa Maria de Medeiros — dá voz e corpo, em várias línguas, às múltiplas faces do poeta. Resultado: um tributo hipnótico à pluralidade do ser, conduzido pela estética inconfundível de Wilson e pela presença magnética de Maria de Medeiros, que guia o público nesta despedida sublime de um dos maiores visionários do mundo teatral.
A fechar, fica aqui a reação do poeta francês Louis Aragon, quando assistiu a encenação O Olhar do Surdo, em 1971: « Nunca vi nada mais belo no mundo desde que nasci. Nunca nenhuma peça se aproximou desta, porque é ao mesmo tempo a vida desperta e a vida de olhos fechados, a confusão entre o quotidiano e a vida de cada noite. A realidade mistura-se com o sonho, tudo o que é inexplicável na vida…«
Didier Caramalho
« Pessoa, Since I’ve Been Me » au Théâtre de la Ville jusqu’au 16 novembre