Morna como Património da Humanidade passa por apoios, eventos e alguns segredos. Portugal apoia.
Alfa/com Lusa
Um ano após candidatar a morna a Património Imaterial da Humanidade, Cabo Verde divide-se entre a recolha de apoios, a preparação de eventos, como um espetáculo na UNESCO, em Paris, e um trabalho de bastidores no « segredo dos deuses ».
A 26 de março de 2018, Cabo Verde entregou a candidatura deste género musical, considerado o mais representativo do ser e do sentir cabo-verdiano, na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês).
A organização não fez qualquer reparo e são grandes as expectativas para, até ao final do ano, a música imortalizada por vozes como Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B. Léza, Cesária Évora, Titina, Bana, Ildo Lobo, Tito Paris, entre muitos outros, obtenha a classificação, tal como aconteceu com o fado em Portugal, em 2011.
Aliás, Cabo Verde contou com o apoio de Portugal neste processo, tendo Paulo Lima – investigador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e envolvido nas candidaturas portuguesas ganhadoras do fado, cante alentejano e arte do chocalho – assessorado tecnicamente a candidatura cabo-verdiana.
Outros apoios estão ainda no segredo dos deuses, nomeadamente os nomes de personalidades que já manifestaram o agrado com esta candidatura e que serão em breve conhecidos, consoante a estratégia cabo-verdiana para esta eleição, segundo disse à agência Lusa o presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) de Cabo Verde, Hamilton Jair Fernandes.
« É um trabalho de bastidores que não pode ser revelado, tendo em conta uma candidatura desta natureza. Posteriormente, teremos a oportunidade de publicamente dizer os nomes, não só dos países amigos por trás deste processo, mas também de instituições e particulares que têm acompanhado este processo », disse.
Para já, apenas é possível revelar o trabalho realizado « até à entrega do dossier », adiantou.
Contudo, Jair Fernandes apontou as duas estratégias que começaram a ser desenvolvidas este ano, das quais a primeira « tem a ver com uma estratégia mais técnica de implementação da agenda morna ».
Trata-se da « operacionalização do plano de salvaguarda que consta do dossier de candidatura » e que pressupõe « atividades com as escolas, com a comunidade morna (artistas, casas de música), mas também criando vários pontos e circuitos relacionados com a morna, apoiando iniciativas das câmaras municipais na criação de centros de interpretação ligados à morna, casas da morna, mas também um circuito tematizado: a volta da Cesária Évora e outros interpretes e compositores de morna ».
Todas estas atividades estão previstas no quadro da Agenda Morna, « a ser implementado a partir deste ano », adiantou.
Em paralelo, acrescentou, « há todo um trabalho de diplomacia cultural, já devidamente encaminhado por parte do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, envolvendo o máximo possível os países das várias comunidades a que Cabo Verde pertence, mas também a quem decide que é um comité muito restrito ».
« Se a mensagem não for muito bem trabalhada podemos ter o risco de insucesso, mas isso está fora de hipótese », ressalvou.
A diplomacia faz-se também ao mais alto nível em prol da morna, envolvendo o Primeiro-Ministro, o Presidente da República e outras delegações das embaixadas espalhadas em todo o mundo para tentar sensibilizar quem decide.
Entre as ações de charme a desenvolver fora de Cabo Verde está previsto « um grande concerto na sede da UNESCO, em Paris, com o fito de levar a essência da alma cabo-verdiana que é a morna ».
O presidente do IPC está otimista com esta candidatura e promete que até julho deste ano vão ser revelados os passos que têm sido dados no âmbito desta candidatura.
« Estamos certos que culminará na classificação da morna como Património Imaterial da Humanidade », disse Jair Fernandes, acreditando que um dos resultados práticos desta classificação será uma « maior dinâmica », nomeadamente aos « espaços ligados à morna », como aconteceu com o fado em Portugal, que catapultou lugares como Alfama, Mouraria, Madragoa ou o Bairro Alto para o ‘top’ das preferências dos turistas e também lisboetas.
Em 2018, ano em que foi entregue a candidatura na UNESCO, Cabo Verde assinalou pela primeira vez o Dia Nacional de Morna, instituído em fevereiro no Parlamento cabo-verdiano.
A data escolhida foi 03 de dezembro, dia em que nasceu Francisco Xavier da Cruz (B. Léza), considerado um dos maiores compositores do género musical do país.
O dia foi instituído com o objetivo de homenagear todos os outros compositores, músicos e intérpretes, exaltar e reconhecer a sua importância e chamar atenção da sociedade cabo-verdiana para a necessidade de valorização do género musical.