Camionistas. Como o SNMMP ficou “isolado numa greve estéril” – Expresso

Como o SNMMP ficou “isolado numa greve estéril” – um artigo do Expresso. Por F. Monteiro

Foto: TIAGO PETINGA/LUSA

Com o anúncio de acordo da FECTRANS e do SIMM, o SNMMP ficou sozinho na greve que arrancou na segunda-feira

No campo de batalha, qualquer posição elevada traz vantagens e desvantagens; por um lado, permite ter uma visão macro do terreno, por outro, há movimentos nas proximidades, daqueles que têm os olhos colados no horizonte, que podem passar despercebidos. Por vezes, acaba-se isolado. Tudo indica que foi isso que aconteceu ao Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) ontem à noite.

Minutos antes de ser conhecido o acordo do Sindicato Independente de Motoristas de Mercadorias (SIMM) com a Antram, Pedro Pardal Henriques, o porta-voz do SNMMP, garantiu aos jornalistas em Aveiras: “Não vamos desconvocar a greve.” Entretanto, passaram mais de doze horas e o SNMMP ainda não reagiu ao anúncio do SIMM. Para esta sexta-feira, o SNMMP tem uma conferência de imprensa marcada para as nove da manhã.

“Que mais este exemplo inspire todos. Que ninguém fique isolado numa greve estéril que compromete o diálogo”, escreveu António Costa, no Twitter, na quinta-feira à noite. O destinatário da mensagem do primeiro-ministro, apesar de não nomeado, é óbvio.

Com o anúncio de acordo da FECTRANS e do SIMM, o SNMMP ficou sozinho na greve que arrancou na segunda-feira. Se o sindicato perdeu margem negocial é discutível, mas Pardal Henriques deu sinais ontem de que o SNMMP estaria disposto a conversar com os patrões. “Acredito que se o Governo tiver a mesma postura e mobilização de esforços, como tem tido para bloquear o direito à greve, este processo vai ser resolvido muito em breve », atirou.

O SNMMP, contudo, não terá a vida facilitada pela Antram. Os patrões já avisaram em diversos momentos que não estão dispostos a negociar com “a espada sobre a cabeça”, ou seja, com a paralisação ainda a decorrer. Mais: na quinta-feira à tarde, a Antram não respondeu ao repto lançado pelo sindicato de motoristas de matérias perigosas para um encontro no ministério do Emprego. Isto, apesar do SNMMP ter chamado Bruno Fialho, dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), como mediador para o encontro, como contou o Expresso.

Também o Governo (por representação do ministro Pedro Nuno Santos) alinhou ao lado da Antram ontem à noite, quando disse: « Falta o SNMMP, que ainda hoje desafiou a Antram para uma mediação sem desconvocação de greve. Não é suficiente. Em qualquer negociação, para conseguirmos fazê-la em ambiente saudável e conseguirmos progredir e ter resultados, não podemos estar sob uma greve.”

Questionado se a intenção de promover um acordo entre a Antram e o SIMM foi isolar o sindicato que permanece em greve, o ministro foi perentório: ”Nós não queremos que ninguém fique isolado, nós queremos que a greve seja desconvocada. A via negocial implica a desconvocação da greve. É assim nesta, é assim em todas as greves.”

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