Os caretos de Podence (Macedo de Cavaleiros) já são Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, juntando-se assim ao Fado, ao Cante Alentejano, ao fabrico de Chocalhos e aos Bonecos de Estremoz.
A decisão foi anunciada, esta quinta-feira à tarde, após aprovação durante reunião da organização em Bogotá, na Colômbia.
A candidatura, designada « Festas de Inverno Carnaval de Podence », foi considerada « exemplar » pela UNESCO.
António Carneiro, o presidente da Associação dos Caretos de Podence , um dos grandes impulsionadores da tradição, disse ao JN que este reconhecimento » é uma mais-valia para toda a região do Nordeste Transmontano e para toda a identidade única que tem. A história dos caretos perde-se nos tempos, é uma tradição que passa de geração em geração ».
« No fundo, é um reconhecimento de 40 anos, que andamos a fazer esta caminhada, com muitas dificuldades. Mas, finalmente conseguimos que esta tradição fosse reconhecida mundialmente « , acrescentou.
António Carneiro avalia esta classificação como um « grande contributo para que os naturais e os descendentes de Podence e de toda a região vejam isto de outra forma. Este reconhecimento acarreta também mais responsabilidade. Daqui para a frente estamos obrigados a um plano de salvaguarda que fazemos questão de cumprir ». O responsável já havia anunciado que a ideia é a de ter na aldeia um espaço digno da tradição Podence e para todos os caretos da região transmontana e que, para concretizar este projecto foi convidado o arquiteto Souto de Moura. « Queremos agregar tudo o que são os rituais de inverno nesta região num memso espaço », especificou.
Foi em 1985, quase à beira da extinção, que o ritual do Entrudo Chocalheiro ganhou vida, quando se organizaram e transformaram o grupo numa associação cultural, com o objetivo principal de preservar estes eventos tradicionais.
Na aldeia de Podence, o carnaval, também designado por entrudo chocalheiro, é um dos eventos mais importantes do calendário anual.
Entrudo Chocalheiro são quatro dias de folia em Podence
O Carnaval são quatro dias na aldeia de Podence em Macedo de Cavaleiros ao ritmo das tropelias dos Caretos.
“Nós não inventámos nada, herdámos dos nossos antepassados e estamos cá para manter para as próximas gerações”, explicou à Lusa Luís Filipe Costa, um dos jovens da aldeia transmontana que faz parte da festa.
“Eu nasci careto”, enfatizou, e aos 34 anos é um dos nomes ligados à tradição que faz fatos de caretos, máscaras e outros objetivos ligados aos rituais que lhe inspiram um negócio na aldeia e uma tese de mestrado.
O carnaval é Entrudo Chocalheiro e ocorre no fim de semana prolongado, com um desfile noturno na sede de concelho, Macedo de Cavaleiros, a marcar o arranque das festividades, normalmente num sábado.
No domingo, como contou à Lusa, a festa passa para a aldeia de Podence e caretos, com fatos de lá coloridos, máscaras de ferro e lata, um pau para amparar as tropelias e um cinto de chocalhos, andam pelas ruas.
Entre a algazarra há as matrafonas, com quem os caretos não querem contas e a quem não chocalham, reservando as investiduras para as raparigas que apanham desprevenidas.
“Noutros tempos, era o dia em que se permitia aos rapazes terem um contacto mais atrevido com as raparigas”, recordou.
Nos últimos anos, o número de visitantes tem vindo a aumentar, com cerca de 30 mil forasteiros no Entrudo de 2019.
A aldeia ganha movimento e cresce economicamente, nomeadamente nas tasquinhas e restaurantes.
“Queremos que esta tradição também faça com que cada vez pessoas não tenham de emigrar”, afirmou.
O Entrudo Chocalheiro prossegue na segunda-feira de Carnaval com os animados casamentos, em que, no adro da igreja, os rapazes anunciam casamentos burlescos com dotes satíricos, anunciados por “embudes” (funis que servem de altifalantes).
Na terça-feira, os caretos voltam a sair à rua e vão de casa em casa e de adega em adega.
O ritual tem também a função de juntar a população e, como contou Luís Filipe Costa, “mesmo aquelas pessoas que durante o ano não se falam muito ou andam meias desavindas, naquele dia permite-se as pessoas irem a casa umas das outras”.
O Entrudo Chocalheiro regressa entre 22 a 25 de fevereiro de 2020 com o estatuto de Património Imaterial da Humanidade.
Alfa/JN/LUSA