Cientistas anunciam cura de segundo infetado em Londres com vírus da sida

Paciente fez um transplante de células estaminais de um dador com um gene resistente ao VIH.

Cientistas anunciaram hoje, no Reino Unido, a cura de uma segunda pessoa infetada com o vírus da sida através do transplante de células estaminais de um dador com um gene resistente ao VIH.

O caso, relatado na revista médica The Lancet HIV, reporta-se a um doente de Londres, no Reino Unido, que foi sujeito a um tratamento semelhante ao do chamado « doente de Berlim », apresentado em 2011, na Alemanha, como o primeiro infetado com VIH curado, após ter recebido esta terapêutica durante três anos e meio.

« Sugerimos que estes resultados representem o segundo caso de uma pessoa com VIH a ser curada. Os resultados mostram que o sucesso do transplante de células estaminais como cura para o VIH, relatado pela primeira vez há nove anos no ‘doente de Berlim’, pode ser replicado », afirmou, citado em comunicado pela The Lancet, o coordenador do estudo experimental, Ravindra Kumar Gupta, da Universidade de Cambridge.

Segundo o estudo, o « doente de Londres », um homem, deixou de ter infeção viral ativa ao fim de dois anos e meio sem medicamentos antirretrovirais.

Os cientistas verificaram-no em amostras de sangue, de líquido cefalorraquidiano, sémen, tecido intestinal e linfoide.

Adicionalmente, partiram de um modelo probabilístico para calcularem a percentagem de cura, que seria de 99% se o doente tivesse 90% de células imunitárias derivadas das células que foram transplantadas.

No caso do « doente de Londres », os investigadores concluíram que 99% das suas células imunitárias derivaram das células estaminais que recebeu do dador, o que significa que o transplante de células estaminais foi bem-sucedido.Apesar dos resultados, o homem continuará a ser monitorizado, embora com menos frequência.

A remissão da infeção pelo VIH foi reportada em 2019.Os autores da investigação ressalvam que o tratamento com células estaminais – células que se diferenciam noutras e têm capacidade regenerativa – é de risco elevado e só pode ser usado como último recurso para doentes com o vírus da sida que têm cancro no sangue.

« Por isso, não é um tratamento que possa ser amplamente dado a infetados com o VIH que estão a responder com sucesso a um tratamento antirretroviral », sublinhou Ravindra Kumar Gupta.

O transplante de células estaminais de dadores com o gene resistente ao VIH (CCR5) faz com que o vírus não consiga multiplicar-se no organismo da pessoa infetada, ao substituir as suas células imunitárias pelas células imunitárias dos dadores. A radioterapia e a quimioterapia são utilizadas paralelamente para eliminar vestígios do vírus.

Comparativamente com o « doente de Berlim », o « doente de Londres » recebeu um tratamento menos agressivo, que consistiu num único transplante de células estaminais e doses mais reduzidas de quimioterapia e radioterapia.

O « doente de Berlim » foi sujeito a dois transplantes, a radioterapia em todo o corpo e a um regime de quimioterapia mais intensivo.

 

Alfa/Lusa/Sic.

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