Movimento “cidadão”, inédito e sem controlo político ou sindical contra aumento dos preços dos combustíveis, bloqueava ao meio dia deste sábado mais de dois mil locais em todo o país. Nessa altura, números oficiais registavam um morto e 47 feridos, três deles em estado grave. Autoridades receiam mais complicações durante a tarde e que a revolta alastre.
Alfa/Expresso. Por Daniel Ribeiro (adaptação)
O Governo e o Presidente Emmanuel Macron demoraram a compreender o movimento inédito dos “coletes amarelos”, que se desenvolveu de forma “espontânea”, durante várias semanas, na internet, e está hoje a bloquear a França inteira.
Mas, depois de ele ter sido desencadeado, às sete da manhã deste sábado, continuaram a demonstrar que continuavam a não compreender a evidente revolta dos franceses de base contra as elites, designadamente contra o que grande parte chama “o Presidente dos ricos”, os aumentos dos impostos, das contribuições sociais, a baixa do poder de compra e das reformas.
O ministro do Interior, Christophe Castaner, continuava, ao meio dia deste sábado, a seguir o movimento num autêntico posto de comando, rodeado de polícias, « gendarmes » e “prefeitos”, como se estivesse perante uma revolução.
Nem ele nem ninguém no poder pareciam perceber que algo de profundo se passava, que a França estava bloqueada de lés a lés e que conflitos eclodiam minuto a minuto nas barragens que atingiam mais de dois mil locais, fazendo feridos e mesmo um morto.
Ao meio dia, o ministério do Interior anunciou que foram contabilizados oficialmente, em todo o país, um pouco mais de 124 mil manifestantes, mas o número parecia subavaliado.
Por exemplo, dentro da cidade de Paris circulavam esta manhã muito poucos automóveis, como constatou este repórter. A capital estava bloqueada no “Peripherique”, a autoestrada circular que envolve a cidade. E decorriam manifestações, a pé, em pleno centro, no meio de uma grande e delicada confusão, na zona dos Campos Elíseos.
O mesmo acontecia em muitas outras zonas e cidades do hexágono, de Nice e Avignon a Bordéus e a Lille.
A maioria dos incidentes que provocaram um morto e feridos resultaram de conflitos entre manifestantes e outros cidadãos que tentaram forçar barragens e também de confrontos com forças da ordem.
Nas manifestações, os “coletes amarelos” gritam palavras de ordem contra os aumentos dos preços dos combustíveis, a baixa do poder de compra e pedem alto e bom som a demissão do Presidente e do Governo.
Numa entrevista, a meio da semana, Emmanuel Macron reconheceu que, durante os seus 18 meses no poder, falhou um dos seus principais objetivos: “reconciliar o povo francês com os seus dirigentes”.
Governo e Presidente receiam que o movimento alastre e prossiga durante a noite e nos próximos dias – no fundo temem consequências políticas, que ele beneficie a extrema-direita e a extrema-esquerda, a alguns meses das eleições europeias.
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Foto: AFP/Sébastien Bozon