“Coletes amarelos”. Chegou a hora da verdade para Emmanuel Macron, que fala esta noite ao país. Os tumultos e a revolta dos “coletes” encostaram o jovem Presidente francês à parede. Macron fala esta noite à nação, nas televisões. Se falhar, morreu. A França continuará a arder até ele cair. E Marine le Pen ficará com a porta do poder aberta.
A comunicação de Emmanuel Macron ao país (esta noite, à hora dos telejornais – 19h em Lisboa) está a gerar tantas ou mais expectativas no país do que uma final de um Mundial de futebol disputada pela França.
Depois de quatro sábados consecutivos de violência extrema e de manifestações muito radicalizadas em todo o país, o jovem chefe de Estado (41 anos), sem passado político e com muito pouca experiência nessa área, joga tudo esta noite.
Emmanuel Macron chegou ao poder máximo em França depois do seu antecessor, François Hollande, o ter chamado para o seu Governo, por ser um brilhante economista com uma carreira excecional num conhecido banco de negócios (Rothschild).
Depois de entrar no Executivo, manobrou nos bastidores, traiu Hollande e ganhou as presidenciais da primavera de 2017 graças a um movimento original que lançou e porque, na segunda volta, teve pela frente a líder nacionalista e populista, Marine le Pen, que a maioria dos franceses não quis.
O seu movimento chamava-se “Em Marcha” e era algo inédito no país. Macron lançou os seus “marcheurs” (caminhantes) e eles foram de porta em porta, literalmente, dizer aos franceses, quase um a um, que a forma de fazer política em França iria mudar com ele no Eliseu. Prometeu tudo e, designadamente, que seria um Presidente que sempre escutaria os seus compatriotas e que nunca deixaria de estar em contacto com eles.
Nas eleições, Macron destruiu todos os partidos, menos o de Marine le Pen (RN – Ajuntamento Nacional). Até a “França Insubmissa”, de Jean-Luc Mélenchon (esquerda não alinhada) entrou recentemente em crise.
RECUO INEVITÁVEL DO “PRESIDENTE ARROGANTE DOS RICOS”
Mas, depois de ser eleito, o Presidente fechou-se no Eliseu, aboliu o Imposto sobre as Grandes Fortunas, e disse que queria ser um “Presidente Júpiter” (em oposição ao “Presidente normal”, que tinha desejado ser Hollande).
Desprezou os chamados “corpos intermediários”, sobretudo os sindicatos – e é agora chamado nas ruas de França, pelos “coletes”, de o “Presidente arrogante dos ricos”.
As taxas sobre os carburantes, previstas para entrarem em vigor a 1 de janeiro e que já foram anuladas devido à pressão das manifestações, foram a gota de água que fez transbordar o vaso do descontentamento.
Agora os “coletes” querem mais, muito mais – aumentos de salários e de pensões, baixas de impostos e até novas eleições legislativas e presidenciais, bem como a introdução do sistema proporcional no escrutínio para o Parlamento.
Encostado à parede, Emmanuel Macron chamou esta manhã, à pressa, ao Eliseu, as centrais sindicais. Reuniu-se com os sindicalistas (e também com representantes do patronato e “eleitos dos territórios”) durante várias horas, mas tudo parecia muito improvisado.
O seu objetivo era claro: preparar a sua comunicação desta noite, apagar o incêndio que atinge todo o país desde há quase um mês e pediu ajuda aos sindicatos.
Parece evidente que Emmanuel Macron vai ter de recuar e sobretudo de anunciar medidas concretas e muito claras sobre o poder de compra dos seus compatriotas.
Terá de ser mesmo muito concreto e jogará tudo esta noite. Se falhar, não terá uma segunda hipótese porque os “coletes” permanecem mobilizados, têm o apoio de dois terços da população e continuam a gritar, nos bloqueios de estradas, que continuavam nesta segunda-feira, “Macron demissão”.
Mesmo uma remodelação governamental ou uma mudança de primeiro-ministro não chegarão para acalmar o fogo que atinge a França. Mesmo um pedido de desculpas pela forma distante como tem exercido o poder não chegará para acalmar a revolta.
Emmanuel Macron está encostado à parede – e Marine le Pen e o seu partido surgem como os melhor colocados para vencerem eleições antecipadas, se elas tiverem lugar.