A Suíça acolhe entre hoje e domingo a Conferência para a Paz na Ucrânia, que juntará representantes de mais de 90 países e organizações, incluindo Portugal, mas não da Rússia nem da China, entre outros ausentes de peso.
O objetivo da conferência, organizada pela Suíça na sequência de um pedido nesse sentido do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é “inspirar um futuro processo de paz”, tendo por base “os debates que tiveram lugar nos últimos meses, nomeadamente o plano de paz ucraniano e outras propostas de paz baseadas na Carta das Nações Unidas e nos princípios fundamentais do direito internacional”.
Nesta cimeira, que começa hoje à tarde na luxuosa estância suíça de Burgenstock, nos arredores de Lucerna (centro da Suíça), para a qual foram destacados 4 mil militares para garantir a segurança do evento, a Ucrânia espera obter um largo apoio internacional a um plano conjunto de paz, já na perspetiva de uma segunda cimeira, para a qual seria convidada a Rússia, que atualmente ocupa cerca de 20% do território ucraniano, na sequência da ofensiva militar lançada em fevereiro de 2022.
Entre os participantes – cerca de metade dos quais da Europa – contam-se o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o Presidente francês, Emmanuel Macron.
Entre os grandes ausentes da cimeira, para a qual haviam sido convidados 160 países e delegações, destaque naturalmente para a Rússia.
Por diversas ocasiões, Moscovo deplorou a realização de uma conferência baseada no plano de paz apresentado em finais de 2022 por Zelensky – que prevê na sua versão inicial uma retirada das tropas russas do território ucraniano, compensações financeiras por parte das autoridades russas e a criação de um tribunal para julgar os responsáveis russos -, e acusou a Suíça de perder a neutralidade ao alinhar-se com as sanções europeias.
O outro grande ausente de peso é a China, um dos grandes aliados de Moscovo e vista como intermediária fundamental para futuras conversações de paz, que rejeitou participar dada a ausência da Rússia, tendo Zelensky acusado Pequim de trabalhar em conjunto com o Kremlin (presidência russa) para sabotar a conferência, ao pressionar países para não participarem.
De resto, entre os membros do grupo dos países de economias emergentes (BRIC), além da Rússia e da China, também o Brasil não participará, por considerar indispensável a participação de Moscovo – ainda que o Presidente, Lula da Silva, tenha estado esta semana na Suíça para participar numa cimeira da Organização Internacional do Trabalho.
A presença de uma delegação da África do Sul continua incerta, e apenas a Índia confirmou publicamente a sua presença na conferência, mas ainda se desconhece a que nível de representação.
Portugal estará representado na conferência pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Na quarta-feira, precisamente na Suíça, por ocasião do encerramento das celebrações do Dia de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou as ausências e o pouco sucesso que se prognostica para esta cimeira, enfatizando antes a importância da mesma como “um primeiro passo”, que tinha de ser dado nalgum momento, num processo que conduza ao fim da guerra.
“Tem de se perceber que esta cimeira é a primeira de várias cimeiras. Tinha de haver uma cimeira, a primeira, e a Suíça avançou, e avançou muito bem. Se não se dá o primeiro passo num processo que é para a paz, aí perde-se o que é um caminho fundamental que todos desejamos”, disse o chefe de Estado português, após um encontro em Berna com a Presidente da Confederação Suíça, Viola Amhed, a anfitriã desta cimeira para a paz na Ucrânia.
Na sexta-feira, ao chegar à Suíça, Zelensky afirmou: “Serão dois dias de trabalho ativo com países de todas as partes do mundo, com nações diferentes que, no entanto, estão unidas por um objetivo comum de trazer uma paz justa e duradoura na Ucrânia”.
Numa mensagem publicada na rede social X, o governante sustentou que a cimeira irá constituir “uma oportunidade para a maioria global tomar medidas específicas em áreas importantes para todos no mundo: segurança nuclear, segurança alimentar e regresso dos prisioneiros de guerra e de todas as pessoas deportadas, incluindo as crianças ucranianas deportadas”.
Com Agência Lusa.