Conselho Europeu sem consenso. Costa: « Mesquinhez recorrente é uma ameaça à UE »

Costa agastado no fim do Conselho Europeu: « Mesquinhez recorrente é uma ameaça à UE »

ARIS OIKONOMOU/GETTY

Não houve consenso em torno da ideia dos ‘coronabonds’ no Conselho Europeu, e Costa saiu da reunião agastado com os « frugais », sobretudo com a Holanda. Centeno vai estudar programa para conter a crise. « Temos de recorrer a todos os instrumentos », diz o PM português.

Alfa/Expresso, por Vítor Matos

 

No fim do Conselho Europeu extraordiniário desta quinta-feira, para discutir a reação europeia à crise do novo coronavírus, António Costa deixou transparecer uma irritação com os países chamados « frugais » – mais concretamente contra a Holanda, numa declaração violenta e rara entre responsáveis europeus, classificando o « discurso » do ministro holandês das Finanças como « repugnante » e a atitude de alguns países como « mesquinha ». Resultados do encontro? Quase nada: o Eurogrupo ficou mandatado para apresentar dentro de 15 dias um programa de ataque à crise económica.

Depois da reunião realizada por videoconferência, e onde os 27 não chegaram a acordo sobre a emissão de dívida comum (os chamados ‘coronabonds’), o primeiro-ministro português foi questionado sobre uma frase do ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, que disse esta semana que alguns países da UE tinham acumulado reservas enquanto outros como a Itália e a Espanha não o tinham feito, Costa foi violento. A jornalista que fez a pergunta citou uma frase que Hoekstra terá dito esta semana numa reunião do Ecofin e que o PM não desmentiu: “A Comissão Europeia devia investigar países como Espanha que afirmam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelo efeito do novo coronavírus, apesar de a zona euro estar a crescer há sete anos consecutivos”, terá dito o ministro holandês aos seus homólogos.

António Costa começou por ironizar – « esse ainda fala menos português » [do que o primeiro-ministro Rutte] – e atirou então uma declaração de grande agressividade no contexto da relação entre parceiros na UE: « Esse discurso é repugnante . Ninguém está disponível para ouvir o ministro das Finanças holandês a dizer o que disseram em 2009, 2010, 2011. Não foi a Espanha que importou o vírus. O vírus atinge a todos por igual. Se algum país da UE acha que resolve o problema deixando o vírus à solta nos outros países, não percebeu bem o que é a UE », sentenciou.

Classificando atitudes como esta de responsáveis europeus como « incosncientes » o português disse que « essa mesquinhez recorrente mina a UE e é uma ameça à UE ». E foi mais longe nas críticas, sugerindo a substituição do ministro: « Se a UE quer sobreviver, não pode deixar que um responsável político possar dar respostas como esta ».

A seguir recordou Jeroen Dijsselbloem, o antecessor de Hoekstra, que teve a famosa tirada sobre os países do sul gastarem o dinheiro em copos e mulheres: « Já era insuportável trabalhar com o sr. Dijsselbloem, mas há países que insistem em mudar os nomes mas em manter pessoas com o mesmo perfil ».

QUATRO CONTRA OS ‘CORONABONDS’

Embora sem acordo possível, António Costa admitiu uma possiblidade em aberto de emitir dívida conjunta, apesar das discordâncias entre os 27: « Aos nove países que defenderam a carta, houve quatro que se juntaram e quatro que se opuseram e outros que não tomaram posição », revelou. Dos quatro que estão contra – Holanda, Finlândia, Áustria e Alemanha -, cujos nomes o primeiro-ministro português não revelou, a Alemanha terá manifestado uma posição mais flexível.

« Três países são totalmente contra e um tem abertura de espírito para discutir », diria Costa, fazendo uma descrição que encaixa no perfil da Alemanha e de Angela Merkel.

« Temos de recorrer a todos os instrumentos », disse Costa.

No mandato do Eurogrupo saído desta reunião, que tem 15 dias para trabalhar com as outras instituições num plano de atque à crise, inclui-se a proposta de se « recorrer a outros mecanismos », leia-se emissão de dívida comum. « A Europa não pode fica aquém daquilo que os cidadãos pedem da Europa. Deve ter uma posição clara e de liderança na crise que estamos a enfrentar », disse Costa.

« Hoje demos o primeiro passo para olhar para o momento posterior ao da crise, com um grande plano de reconstrução », porque os presidentes do Conselho e da Comissão foram mandatados para começar a trabalhar nele.

ELOGIOS AO BCE, APÓS AS CRÍTICAS A LAGARDE

Depois de ter criticado Christine Lagarde, presidente do BCE, no debate quinzenal no Parlamento, o primeiro-ministro português referiu uma « acalmia dos mercados e a descida da taxa de juro, ainda não nos valores normais, mas com uma a tendência de descida », para depois dizer que « o BCE, com o anúncio da mobilização de 750 mil milhões de euros e a retirada da restrição da linha de divida de cada pais, deu um contrinbuto decisivo ».

Mas Costa foi mais longe, talvez como forma de críticar os países « frugais » pelo impasse no Conselho Europeu sobre a emissão de dívida comum: « A decisão do BCE foi a mais imporante no conjunto da União Europeia. » E agora?

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