Contribuintes dão mais 850 milhões ao Novo Banco

Contribuintes dão mais 850 milhões ao Novo Banco. E quem paga a fatura política?

Foto TIAGO MIRANDA

A instituição bancária vai voltar a precisar de ajuda e as forças políticas já começaram a jogar no tabuleiro das acusações. À direita do PS culpa-se o governo, enquanto o Bloco de Esquerda responsabiliza PSD, CDS-PP e PS pela situação atual. Comunistas e bloquistas apostam na reversão da privatização.

Alfa/Expresso por João Miguel Salvador

A notícia de que o Novo Banco vai pedir uma injeção de capital de 1.149 milhões de euros ao Fundo de Resolução, 850 milhões dos quais serão pedidos ao Estadoconhecida esta sexta-feira, trouxe a instituição bancária para o topo da agenda política e a maré de reações ainda não parou. Em causa, explica o banco presidido por António Ramalho, estão “perdas das vendas e da redução dos ativos ‘legacy‘”, mas para a classe política o que está em jogo é muito maior do que isso.

Depois de Mário Centeno ordenar uma auditoria à concessão de créditos problemáticos do Novo Banco — que estão a obrigar à injeção de capital pelo Fundo de Resolução e, por essa via, do Estado — e de o presidente do banco responder que “todas as auditorias são bem-vindas”, é a vez de novas vozes se juntarem à polémica iniciada nesta sexta-feira. É certo que as reações surgem dos mais diversos quadrantes, mas esta é uma luta que a oposição está apostada em ganhar.

UM SACO SEM FUNDO

Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD às eleições europeias que acontecem este ano, acusa o ministro das Finanças de ter “duas caras” (“uma cara em Lisboa e tem outra cara em Bruxelas”) e que isso também já se verifica em relação ao Novo Banco. Para Rangel, Mário Centeno não pode “lavar as mãos como Pilatos” nesta questão. “Prometeu-nos um determinado quadro, quando fez a venda que fez, e agora o que nós vemos é que esse quadro é uma espécie de saco sem fundo. E, portanto, o ministro Centeno tem de responder e tem de explicar”, expressou em Castelo Branco, à margem da iniciativa “Democracias XXI”, dinamizada pela Distrital de Castelo Branco da JSD.

Não é o único a querer ser ouvido e é do lado do CDS-PP que também surgem palavras fortes. Os centristas querem ouvir Mário Centeno sobre o Novo Banco no parlamento “com a máxima urgência” e apontam a próxima semana como o tempo ideal para que o ministro das Finanças explique o que aconteceu.

Querem que Mário Centeno dê uma explicação « ao país e ao parlamento sobre estes novos factos ». « O CDS considera preocupantes e encara até com alguma estupefação estas notícias, porque contrariam aquilo que, nomeadamente por perguntas feitas por deputados do CDS, o Governo e o ministro das Finanças sempre disseram », afirmou o líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, em declarações à agência Lusa. « Esta necessidade e eventual injeção de capital público foi aquilo que o ministro das Finanças disse que não iria acontecer por força do mecanismo criado e que então mereceu a nossa crítica », acrescentou.

MENTIRAS DO PSD, CDS E PS

À esquerda do PS as críticas também se fazem ouvir e os partidos que suportam o Governo já mostraram a sua preocupação face às noticias agora conhecidas. Com uma abordagem diferente da apresentada pela direita, que aposta na responsabilização do governo, o Bloco de Esquerda inclui PSD e CDS-PP nos culpados da situação atual, ao passo que o PCP não esconde a vontade de que a privatização seja revertida. Os comunistas voltaram este sábado a defender o regresso do Novo Banco à esfera pública, de modo a impedir ” »a entrega de milhares de milhões de euros » a privados. “Se o Estado paga o banco, o Estado deve gerir o banco.” Nesta matéria, é já certo que o PCP terá o apoio dos bloquistas.

Este sábado, quando responsabilizou PSD, CDS e PS pela situação do Novo Banco, Catarina Martins afirmou que “o que aconteceu com o BES e o Novo Banco é uma lição do que não deve ser feito no país”. Para a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), que falava aos jornalistas em Amarante, é inconcebível que “o mesmo Governo que diz que não há dinheiro para reivindicações laborais — que quando olhamos para a dimensão do novo Banco, são, de facto, tão modestas — continua sem compreender que é preciso uma alteração profunda da forma como este país lida com o sistema financeiro”.

Para a dirigente do Bloco, PSD e CDS « mentiram ao país » quando disseram que a resolução do BES não ia ter custos para o erário publico e frisa que a conta “já vai em mais de cinco mil milhões de euros”, mas para Catarina Martins os dois partidos de direita não são os dois únicos mentirosos da história. Na mesma intervenção, considerou que o Governo do PS mentiu “quando garantiu que a venda do Novo Banco era a melhor forma de travar o gasto de dinheiro público com o ex-BES”.

Catarina Martins não terminou as suas declarações sem reafirmar o que diz ter sido sempre uma bandeira do Bloco. « Sempre dissemos: se nós pagamos, mais vale sermos donos. O banco devia ter ficado para o Estado, porque nós continuamos a pagar um banco que, de facto, foi entregue a acionistas privados, foi entregue a uma multinacional », acentuou, concluindo: « Estamos a pagar os lucros dos outros. Nacionalizámos prejuízos e continuamos a pagar esses prejuízos ».

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