Graça Freitas, Diretora-geral da Saúde: “Prevemos 21 mil casos na semana mais crítica”
Uma entrevista publicada na edição semanal do Expresso deste sábado – extratos do trabalho do Expresso:
Líder da estratégia para travar a epidemia de Covid-19 em Portugal, Graça Freitas, 62 anos, admite que, no pior cenário, um milhão de portugueses possam vir a ser infetados, 20% dos quais com gravidade. Não esconde que é uma questão de tempo até à deteção dos primeiros casos. O que mais teme é “o comportamento humano” nesta que diz ser “a primeira epidemia online”.
Com a expansão do vírus na Europa, é óbvio que vai chegar a Portugal.
É inevitável. A convicção de que vai chegar existe, se se vai propagar ainda não temos a certeza. Neste momento há várias situações no mundo: há países que importaram casos da China e contiveram, como a Alemanha, há o caso da Itália que tem um foco que ainda está em evolução, e o caso da Coreia, Japão, Irão e Singapura que têm focos, mas estão a travar a infeção, como aconteceu com a SARS. É certo que a probabilidade de conseguir conter o vírus não é grande. O mais provável é que haja uma disseminação da doença.
Qual é o pior cenário para Portugal?
Estamos a trabalhar com cenários para a taxa de ataque da doença, como fizemos para a pandemia de gripe, em 2009. Na altura, pensávamos que podia ter uma taxa total de ataque de 10%: um milhão de pessoas doentes ao longo de 12 semanas, mas não todas graves. Mas, afinal, foram 7%, cerca de 700 mil pessoas no total da época gripal de 2009/10. Uma epidemia depende da taxa de ataque, da duração e da gravidade. No caso do Covid-19, ainda não sabemos tudo para fazer cenários tão bem feitos. Assim, estamos a fazer cenários para uma taxa total de ataque de 10% [um milhão de portugueses] e assumindo que vai haver uma propagação epidémica mais intensa durante, pelo menos, 12 a 14 semanas. Temos estudos que nos dizem que 80% vão ter doença ligeira a moderada e só 20% terão doença mais grave e 5% evolução crítica. A taxa de mortalidade será à volta de 2,3% a 2,4%. No cenário mais plausível prevemos cerca de 21 mil casos na semana mais crítica, dos quais 19 mil ligeiros — não é muito, é como a gripe — e 1700 graves, que terão de ser internados, nem todos em cuidados intensivos. E nessa fase haverá camas em todos os hospitais.