Empresas de transportes de emigrantes temem pelos seus negócios
No setor há quem já tenha despedido metade dos trabalhadores que tinha anteriormente e esteja a lutar por não declarar falência das empresas. Receio de quarentena imposta afasta emigrantes.
Pequenas e médias empresas do setor dos transportes em autocarro, cujos clientes são sobretudo emigrantes, afirmam estar a passar por um período de “grande prejuízo financeiro” causado pela diminuição do número de viagens provocado pela Covid-19.
“Nos anos anteriores, nos meses de julho e agosto, andavam sempre três ou quatro autocarros na estrada. Transportávamos cerca de 200 pessoas por semana. Nesta fase, não chegamos a transportar 25% dos passageiros”, afirma Michel Ferreira, gerente do Grupo Calvário Samar sediado em Lamego.
Com mais de 30 anos de experiência no setor dos transportes de passageiros e mercadorias Portugal/Suíça, e uma frota de 15 veículos, o empresário alega nunca ter passado por uma crise idêntica.
“Antes desta crise tinha 13 funcionários, hoje só tenho sete. Vi-me obrigado a despedir”, justifica o empresário de Trás-os-Montes, salientando que se esta situação se mantiver, terá de “despedir mais alguns”.
Para David Cardoso, gerente da empresa Viagens Cardoso, sediada em Viseu, com mais de 20 anos de experiência na área de transportes internacionais, a situação relatada é idêntica ao colega de Lamego. Apesar de os pedidos terem aumentado nesta altura do ano, devido ao aumento do preço dos bilhetes de avião, o volume de trabalho mantém-se muito fraco comparativamente aos anos anteriores.
“Ainda não deu falência porque havia uns tostões de lado, caso contrário já tinha fechado”, refere o empresário viseense, salientando que “as pessoas gostavam de ir visitar os seus familiares e não vão por medo de os contaminar ou de ficarem retidos em Portugal face a uma possível quarentena imposta”.
Se para as médias empresas os danos financeiros provocados pelo novo coronavírus se tornam difíceis de suportar, os mais pequenos são quem mais luta para manter os seus negócios, defende Paulo Gomes, gerente de uma pequena empresa de transportes sediada em Locarno, na Suíça Italiana.
“Antes da Covid-19 conseguia encher a carrinha, hoje já não é possível, se assim continuar terei de encerrar o meu negócio. Não vou conseguir pagar os seguros das duas carrinhas que tenho”, declara o empresário.
Segundo o relato dos empresários à agência Lusa, o medo do fecho repentino das fronteiras e a preocupação com o contágio continuam a ser os maiores receios dos emigrantes portugueses residentes na Suíça.
“As pessoas ligam-me e quando lhes digo que a carrinha vai cheia, os clientes desistem da ideia de viajar”, confessa Michel Ferreira, dirigente do Grupo Calvário Samar, sublinhando que a carrinha está “protegida com dois terços” que seguem a bordo dos veículos que transportam os emigrantes da Suíça para Portugal.
Nesta “altura difícil”, o gestor do grupo Samar deixa um apelo aos colegas de profissão, pedindo empatia e união: “Deixem a inveja de lado e sejamos mais unidos”.
A Suíça tem mais vítimas mortais que Portugal (1.691) mas menos casos (48.771). No país vivem perto de 300 mil portugueses. A pandemia da Covid-19 já provocou mais de 606 mil mortos e infetou mais de 14,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.