Covid-19. Espanha poderá estar a entrar numa segunda onda. Mas não é o único país

Alfa/Expresso. Por Raquel Albuquerque

 

Oritmo do aparecimento de novos casos de coronavírus por todo o mundo está novamente em aceleração e só desde o início deste mês registaram-se mais 5 milhões de infeções, ou seja, um terço do total conhecido desde dezembro, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS). O aumento significativo de casos em Espanha nas últimas duas semanas é visto como a situação mais crítica e descontrolada na Europa, mas não é o único país no mundo que poderá estar a entrar numa segunda onda de infeções.

O número de casos acumulados por cada 100 mil habitantes triplicou em Espanha nas últimas duas semanas, de acordo com o jornal espanhol “El Mundo”. E essa evolução levou o Reino Unido a incluir o país na “lista negra” de destinos dos britânicos, obrigando-os a fazer uma quarentena de duas semanas no regresso. Também os noruegueses terão de fazer quarentena de dez dias se viajarem para Espanha e o governo francês pediu que os cidadãos evitem deslocações à Catalunha.

Segundo o “El País”, os médicos da região de Madrid reconhecem o risco e temem que a situação se possa descontrolar. “Pode ser que seja uma segunda onda, mas isso [chamar-lhe assim ou não] é o menos. Obviamente que estamos a ter uma curva ascendente. Se os surtos mais importantes forem controlados rapidamente, podemos ter uma situação mais contida”, afirmou em María José Sierra, diretora adjunta do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias, citada pelo “El Mundo”.

Mas Espanha é só um entre muitos outros países que estão a lidar com um aumento do número de infeções. “Nenhum país está a salvo”, afirmou a OMS recentemente, ao sublinha preocupação com a aceleração da pandemia.

Em França, o ministro da Saúde veio confirmar, no sábado, que a circulação do SARS-CoV-2 no país está “a aumentar significativamente”. Pelo segundo dia consecutivo, foram registados mil novos casos, segundo o jornal “Le Monde”. O país tem neste momento a taxa de letalidade mais elevada da Europa e o R, ou seja, o número de pessoas que cada infetado contagia, é agora de 1,3.

Tal como António Costa já afirmou em relação a Portugal, também o primeiro-ministro francês, Jean Castex, afasta por completo a possibilidade de o país regressar a um confinamento total. “O que é preciso evitar acima de tudo é o confinamento geral”, afirmou ao jornal “Nice Matin”. “Sabemos o que isso gera: a medida quebra a progressão da epidemia, sem dúvida, mas ao nível económico e social é catastrófico, assim como para a saúde psicológica de alguns cidadãos.”

Reino Unido não fica de fora desta lista: na última semana, o número de casos terá aumentado entre 1700 a 2800 por dia, o que já levou o governo a tomar medidas.

Na Europa, o Luxemburgo também enfrenta uma segunda onda com valores ao nível do início de abril, ou seja, com mais de uma centenas de casos por dia na última semana (ver gráficos).

FORA DA EUROPA

Face a um significativo aumento de casos, a Austrália voltou a impor restrições, incluindo confinamento de cerca de 5 milhões de pessoas em Melbourne, mas mesmo assim os casos e mortes têm vindo a aumentar. Já a Coreia do Sul registou este sábado o maior aumento de casos dos últimos quatro meses, dos quais mais de metade resultam de pessoas que chegou do estrangeiro, como refere o “Le Monde”. A estratégia de controlo para já não passa por um confinamento, mas por reforçar a capacidade de testagem e de rastreamento de contactos.

Irão tem verificado um aumento de casos desde fim de maio e a mortalidade diária tem estado em níveis elevados há já vários dias. Na primeira semana de junho, o Irão chegou a registar 3 mil novos casos por dia, mais 50% do que na semana anterior, aponta a BBC. Algumas medidas de controlo foram reforçadas novamente na capital, Teerão, e o porta-voz do ministro da Saúde iraniano, Sima Sadat Lari, aponta para 15.700 mortos em resultado da covid-19.

Sem dar tréguas tem também estado a situação nos Estados Unidos, que registaram 60 mil novos casos este sábado e mais 1067 mortos, de acordo com os dados da Universidade de Johns’ Hopkins. Há já cinco dias seguidos que registam cerca de mil mortos por dia, sublinha o jornal britânico “The Guardian”. O vírus já infetou 4,2 milhões de americanos e provocou 150 mil mortos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu que a situação poderá ainda piorar. “Infelizmente, a situação irá provavelmente piorar antes de melhorar”, disse este sábado, no regresso das conferências de imprensa de balanço da epidemia.

ÁFRICA E AMÉRICA LATINA PREOCUPAM

A OMS está também preocupada preocupada com a aceleração da epidemia no continente africano, que até agora tinha estado relativamente incólume. “Estou muito preocupado com o facto de começarmos a assistir a uma aceleração da doença em África, e todos devemos levar isto muito a sério e mostrar solidariedade » com os países afetados, disse esta semana Michael Ryan, diretor de Emergências de Saúde da OMS. O número de casos em África ultrapassou a barreira dos 800 mil, mais 22.507 num dia, e um total de 17 mil mortos.

Mas também na América Latina a evolução tem sido de aumento nos últimos tempos. O Peru é dos casos mais graves, dada a pressão exercida sobre os sistemas de saúde já débeis. Segundo o “Le Monde”, em Arequipa, segunda maior cidade do país, a capacidade dos hospitais já foi ultrapassada e há doentes a dormir em tendas ou dentro dos carros. Também na Bolívia o número de infeções está a subir.

Israel, que foi um dos primeiros países a impor um confinamento total, está a lidar com um ressurgimento de surtos e algumas acusações de ter aliviado as restrições demasiado cedo, em resposta à forte crise económica.

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