Keep calm and carry on – Por Ricardo Figueira, jornalista da Euronews
Para começar o apontamento desta semana, devo em primeiro lugar fazer um mea culpa. Na última crónica, falei do coronavírus mas desvalorizei o impacto que poderia vir a ter na Europa e falei do alarmismo que estava a ser gerado. Infelizmente, a realidade impôs-se e o avanço que o número de infeções e de mortes está a ter no nosso continente não só é inegável como parece não parar. Em Itália, a situação dos hospitais é de desespero. Numa entrevista ao canal onde trabalho, um médico do hospital de Bérgamo contava que os doentes mais velhos ou com doenças incuráveis não estavam a ser entubados, em benefício daqueles com mais hipóteses de sobreviverem.
Os hospitais do norte do país estão sobrelotados, há alas que estão a ser sacrificadas para poderem albergar mais doentes de Covid-19, há doentes que vão ter de ser mandados para hospitais a quilómetros de distância e a falta de ventiladores vai fazer com que, em breve, as escolhas de quem vive e quem é deixado para morrer sejam feitas caso a caso.
Espanha e França caminham a passos largos para a realidade italiana. Portugal tem, por enquanto, menos casos, mas os números aumentam também em proporções alarmantes.
Em França, desde terça-feira que estamos confinados em casa, com exceções – eu, por exemplo, tenho de continuar o meu trabalho, essencial nesta altura – o de informar.
Em Portugal, foi decretado o Estado de Emergência e o presidente da República fez aquele que foi, talvez, o discurso mais lúcido de todo o mandato.
Em ambos os casos, a nossa obrigação é a mesma: Facilitar o trabalho de quem trabalha por nós: os profissionais de saúde. Ficar em casa sempre que pudermos, evitar ao máximo o contacto com os outros, protegermo-nos e proteger quem nos rodeia.
Vem-me à memória um cartaz que se tornou popular em todo o mundo há poucos anos, mas que nasceu em Inglaterra, durante os terríveis bombardeamentos da II Guerra Mundial e continha uma mensagem muito simples, da parte do Rei, a toda a população: Keep calm and carry on, ou seja, mantenham-se calmos e sigam em frente.
É essa a mensagem que cada um de nós tem de incorporar: Manter a serenidade e continuar com as nossas vidas – não como dantes, certo – mas pensar que a tempestade há-de passar e, sobretudo, que podemos e devemos, depois de o pior ter passado, ser pessoas melhores do que éramos antes. Melhores para nós próprios, para os outros e para o planeta em que vivemos. Aproveitar estes dias que passamos em casa para olhar para dentro de nós mesmos. Por a leitura em dia, aproveitar, porque não, a tecnologia ao alcance de cada um para aceder ao legado que séculos de literatura e de arte nos deram. Esperar por dias melhores para todos, sem perder a serenidade. Keep calm and carry on.