Com o anúncio da reabertura em maio das escolas em alguns países europeus, vários professores do Ensino do Português no Estrangeiro receiam ficar infetados com a covid-19 e consideram-se esquecidos pelo Governo português.
“No país onde trabalho [a pandemia de covid-19] está muito, mas muito pior do que em Portugal e querem abrir as escolas para lecionar presencialmente”, contou à agência Lusa um professor do Ensino do Português no Estrangeiro (EPE) num país europeu, que solicitou anonimato.
Para este docente, abrir as portas das escolas é um risco, pois “a maioria das turmas é grande, algumas com alunos do primeiro ao 12.º ano, confinados em salas pequenas e sem qualquer hipótese de manter a distância”.
“O nosso maior receio é ficarmos infetados [pela covid-19], os professores e os alunos”, pois “algumas salas são demasiadamente pequenas. Saem uns alunos e entram logo outros, sem que seja feita qualquer higienização, pois o horário também não permite”, disse.
Este professor, que afirma falar em nome de vários docentes na mesma situação, acusa o Governo de os abandonar: “Somos professores portugueses e, nesse caso, não devíamos depender da decisão de outros países, onde a economia se sobrepõe ao bem-estar da população”.
E acrescentou: “Fosse qual fosse a decisão, deveria ser dos nossos governantes. Penso que deveríamos continuar a trabalhar como em Portugal, com o ensino à distância. Não é o ideal, como podemos verificar até ao momento, mas é o mais razoável”.
O docente queixa-se de falta de informação sobre o que vai acontecer até ao final do ano.
“Apenas sabemos que será de acordo com as orientações dos países onde estamos colocados. De resto, é como se não fossemos portugueses”, acusou.
Carlos Pato, dirigente do Sindicato dos Professores no Estrangeiro (Fenprof), que leciona no Luxemburgo, disse à agência Lusa que ainda não tem conhecimento dos moldes em que as escolas vão abrir.
“Quando vimos para o estrangeiro, conforme o nosso regime jurídico, nós temos que respeitar o normativo do país onde estamos colocados, por isso é que nos dão uma autorização de residência”, explicou.
Isto para afirmar que estes professores são “obrigados a cumprir o ano letivo, tal e qual está estipulado nos países de acolhimento”.
Na atual “situação de emergência”, referiu, nem todos os países têm a mesma ideia sobre a data de abertura das escolas.
Mas a maioria dos países europeus já fixou datas para que as escolas possam reabrir, o que deverá acontecer durante o mês de maio.
Carlos Pato disse entender o medo dos professores, o que também partilha, mas sublinhou que os docentes estão em comissão de serviço e que esta mobilidade pressupõe o respeito do normativo do país.
“Não se pode aplicar o que é decidido em Portugal nos outros países, porque não é essa a filosofia do ensino do português no estrangeiro. Temos de nos adaptar”, afirmou.
E refere que atualmente os professores do ensino português no estrangeiro estão todos a trabalhar como em Portugal, ou seja, à distância.
Ao Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que coordena a atividade dos docentes de língua e cultura portuguesas no estrangeiro, ainda não chegaram queixas de professores descontentes com a reabertura das escolas nos países onde lecionam.
Contactada pela Lusa, fonte deste instituto tutelado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros referiu que as orientações que estes professores têm “são para, no caso do ensino integrado, regressarem às aulas quando a escola local o fizer e, no caso do ensino paralelo, coordenarem com a escola o regresso”.
O instituto garante que, através das suas coordenações de ensino, “tem dado apoio e acompanhamento permanentes a todos os docentes da sua rede de ensino”.
Por seu lado, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, disse à Lusa que a reabertura das escolas no estrangeiro onde se leciona a língua portuguesa será feita “em conjugação com o Ministério da Educação, as autoridades de saúde portuguesas, que têm conhecimento do surto epidemiológico nos territórios, mas sempre em articulação com as autoridades locais de saúde”.
“As questões relacionadas com a saúde pública, nomeadamente com a segurança dos estudantes, dos professores e todos os que trabalham nas nossas escolas tem sido o que tem norteado as nossas atividades”, frisou.
E declarou: “Obviamente que todos queremos que o afrouxar das medidas de confinamento seja feito o mais rápido possível, mas com todos os cuidados”.
Estes cuidados devem prosseguir se e quando acontecer uma “abertura paulatina das atividades letivas”, que deve pressupor “todas as regras que existam no momento, relativamente à higienização, ao distanciamento social, com todas as questões de segurança, tanto no transporte para as escolas como na permanência nas escolas neste período, se e quando vier a existir”.
O ensino de português no estrangeiro está presente nos cinco continentes, num total de 77 países. Em 2018, 70.920 alunos frequentaram os ensinos básico e secundário, enquanto 115.883 cursaram cursos superiores.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 200 mil mortos e infetou mais de 2,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Perto de 800 mil doentes foram considerados curados.
Alfa/Lusa