Covid. Falta de técnicos impediu controlo da epidemia em Lisboa

Covid. Falta de técnicos impediu controlo da epidemia em Lisboa. Aumento de casos levou autoridades locais a pedirem mais meios de rastreio. Saúde demorou 15 dias a reagir. Número de técnicos de saúde está longe do ideal. Peritos dizem que próximas semanas são determinantes para evitar segunda vaga. “Houve claramente falha de planeamento”, acusam Médicos de Saúde Pública.

Alfa/ Expresso. Por Micael Pereira/Raquel Albuquerque (resumo)

Aumento de casos Covid19 em Lisboa. Santa Clara é uma das freguesias em que as medidas estão mais restritas

Foto JOSÉ FERNANDES

Para as autoridades conseguirem saber por onde é que o novo coronavírus anda a circular, de forma a identificar e isolar potenciais infetados e, assim, cortar a cadeia de transmissão, é preciso um trabalho constante e sistemático, que passa por entrevistar os novos casos positivos, listar os contactos com quem essas pessoas estiveram nos dias anteriores, ligar-lhes e, se necessário, colocá-los de quarentena. Segundo o Expresso apurou, na Amadora, um dos concelhos mais afetados atualmente, chegou a haver 100 casos positivos em que não foi possível fazer atempadamente esse trabalho de identificação e isolamento de possíveis doentes de covid, conhecido como inquérito epidemiológico, por falta de capacidade de resposta da equipa de saúde pública local.

Ao Expresso, para um artigo publicado a 13 de junho, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, responsável por coordenar o combate à covid na região de Lisboa, sublinhava que o importante era “a rapidez de resposta e em rede”, adiantando que a estratégia nas semanas seguintes iria ser “a velocidade com que se referencia e isola um caso positivo”. “Tenho plena consciência do cansaço de todos, mas a saúde pública tem de aumentar a intensidade. Se for preciso, serão disponibilizados mais meios”, garantiu.

Esses meios começaram a chegar à Amadora na segunda-feira seguinte, 15 de junho. Até aí havia quatro a cinco elementos a fazer o rastreio dos contactos de casos positivos no município, passando depois a haver oito a nove profissionais dedicados a essa tarefa, com o reforço a ser assegurado por enfermeiros, terapeutas e técnicos transferidos internamente de outras áreas dentro do SNS. Nessa altura, no entanto, já tinham passado duas semanas desde que a equipa de saúde pública do concelho requisitou reforços. O pedido de ajuda foi feito assim que a situação começou a ficar crítica, na última semana de maio, com mais de 25 novos casos diários — e picos de 39 infetados em dois dias.

FALHA NO PLANEAMENTO

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, lamenta o cenário na Amadora e nos outros concelhos afetados por novos surtos. “O que acabou por acontecer foi que estas unidades locais tiveram muitas dificuldades em dar resposta em tempo útil e esses reforços deviam ter sido planea­dos e decididos muito antes, porque já sabíamos que era expectável, com a retoma da atividade, um aumento de casos em certos contextos.” O dirigente acredita que “houve claramente uma falha de planeamento” e aponta responsabilidades: “Acima das unidades estão as ARS [administrações regionais de saúde] e acima das ARS está a DGS [Direção-Geral da Saúde] e a tutela. A DGS deveria ter dado indicações para o reforço de meios, inclusive para dar descanso aos colegas que estão a trabalhar de forma intensa e ininterrupta há muitas semanas.”

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