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Covid. Falta de técnicos impediu controlo da epidemia em Lisboa. Aumento de casos levou autoridades locais a pedirem mais meios de rastreio. Saúde demorou 15 dias a reagir. Número de técnicos de saúde está longe do ideal. Peritos dizem que próximas semanas são determinantes para evitar segunda vaga. “Houve claramente falha de planeamento”, acusam Médicos de Saúde Pública.
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Aumento de casos Covid19 em Lisboa. Santa Clara é uma das freguesias em que as medidas estão mais restritas
Foto JOSÉ FERNANDES
Para as autoridades conseguirem saber por onde é que o novo coronavírus anda a circular, de forma a identificar e isolar potenciais infetados e, assim, cortar a cadeia de transmissão, é preciso um trabalho constante e sistemático, que passa por entrevistar os novos casos positivos, listar os contactos com quem essas pessoas estiveram nos dias anteriores, ligar-lhes e, se necessário, colocá-los de quarentena. Segundo o Expresso apurou, na Amadora, um dos concelhos mais afetados atualmente, chegou a haver 100 casos positivos em que não foi possível fazer atempadamente esse trabalho de identificação e isolamento de possíveis doentes de covid, conhecido como inquérito epidemiológico, por falta de capacidade de resposta da equipa de saúde pública local.
Ao Expresso, para um artigo publicado a 13 de junho, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, responsável por coordenar o combate à covid na região de Lisboa, sublinhava que o importante era “a rapidez de resposta e em rede”, adiantando que a estratégia nas semanas seguintes iria ser “a velocidade com que se referencia e isola um caso positivo”. “Tenho plena consciência do cansaço de todos, mas a saúde pública tem de aumentar a intensidade. Se for preciso, serão disponibilizados mais meios”, garantiu.
Esses meios começaram a chegar à Amadora na segunda-feira seguinte, 15 de junho. Até aí havia quatro a cinco elementos a fazer o rastreio dos contactos de casos positivos no município, passando depois a haver oito a nove profissionais dedicados a essa tarefa, com o reforço a ser assegurado por enfermeiros, terapeutas e técnicos transferidos internamente de outras áreas dentro do SNS. Nessa altura, no entanto, já tinham passado duas semanas desde que a equipa de saúde pública do concelho requisitou reforços. O pedido de ajuda foi feito assim que a situação começou a ficar crítica, na última semana de maio, com mais de 25 novos casos diários — e picos de 39 infetados em dois dias.
FALHA NO PLANEAMENTO
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, lamenta o cenário na Amadora e nos outros concelhos afetados por novos surtos. “O que acabou por acontecer foi que estas unidades locais tiveram muitas dificuldades em dar resposta em tempo útil e esses reforços deviam ter sido planeados e decididos muito antes, porque já sabíamos que era expectável, com a retoma da atividade, um aumento de casos em certos contextos.” O dirigente acredita que “houve claramente uma falha de planeamento” e aponta responsabilidades: “Acima das unidades estão as ARS [administrações regionais de saúde] e acima das ARS está a DGS [Direção-Geral da Saúde] e a tutela. A DGS deveria ter dado indicações para o reforço de meios, inclusive para dar descanso aos colegas que estão a trabalhar de forma intensa e ininterrupta há muitas semanas.”
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