Criança encontrada sem vida 13 dias após queda num poço em Málaga

Espanha. Equipas resgatam Julen sem vida 13 dias após queda num poço.

Foto JON NAZCA/REUTERS

Eram 01h25 deste sábado, em Espanha, quando as equipas de resgate confirmaram o pior dos cenários: Julen, o menino de dois anos, foi encontrado morto. Estava preso no túnel com 107 metros de profundidade, onde caíu. Numa operação extremamente complexa, uma equipa de 100 operacionais esteve no terreno durante quase duas semanas a tentar resgatar o menino de dois anos que caiu num poço em Totálan, em Malága. Os pais mantiveram-se no local a acompanhar de perto os trabalhos, enquanto tentavam alimentar a mais pequena esperança de encontrar Julen com vida

Alfa/Expresso por Liliana Coelho

Foram precisos 13 dias para resgatar Julen. As autoridades espanholas anunciaram que os mineiros conseguiram alcançar finalmente esta sexta-feira o menino de dois anos que caiu num poço em Totálan, Málaga.

Numa operação de extrema complexidade, marcada por uma série de dificuldades técnicas e sem interrupções, uma equipa de 100 operacionais esteve no terreno durante quase duas semanas a tentar resgatar a criança. Os pais de Julen, José Roselló e Victoria García, mantiveram-se no local a acompanhar de perto os trabalhos, enquanto tentavam alimentar a mais pequena esperança de encontrar o filho com vida.

Com 110 metros de profundidade e cerca de 30 centímetros de largura, o poço para onde caiu Julen localiza-se numa área montanhosa de difícil acesso, o que dificultou bastante a operação. “Resgate inédito e único no mundo”, “uma obra de engenharia humanitária”, “a montanha manda no nosso trabalho”, foram algumas das considerações feitas pelos especialistas, realçando os esforços hercúleos envolvidos na operação, que idealmente exigiam, no mínimo, meses de análise e estudos prévios por parte de empresas de engenharia.

OPERAÇÃO EM CONTRARRELÓGIO

Ao segundo dia, as autoridades começaram a traçar três hipóteses para salvar o pequeno Julen. Em contrarrelógio, a Guardia Civil decidiu experimentar ao mesmo tempo as três técnicas com vista a aumentar as hipóteses de encontrar a criança com vida. Uma deles passava por extrair areia do poço, enquanto outra consistia em abrir um buraco paralelo ao existente, de forma a evitar que a criança pudesse ser soterrada e a última técnica passava por abrir outro buraco, a partir da mesma boca do poço.

Entretanto, as autoridades, conseguiram encontrar um saco de guloseimas que a criança trazia consigo na altura da queda e pouco depois localizaram cabelos no interior do poço, cujo exame de ADN comprovou pertencerem a Julen.

Após a avaliação das três técnicas, as autoridades decidiram-se pela abertura de um túnel lateral e horizontal de cerca de 80 metros para tentar alcançar a zona onde se encontrava a criança, acreditando que esta seria aquela que implicava menos riscos. Mas as sucessivas dificuldades – nomeadamente as formações rochosas do terreno e um erro de cálculo do diâmetro do furo – obrigaram as equipas a recuar, por diversas vezes, atrasando os trabalhos antes de abrirem um novo túnel.

Só ao décimo dia, os mineiros se preparavam para avançar com a etapa final do resgate. Contudo, um novo obstáculo voltou a atrasar a operação. E só entre esta quinta e sexta-feira, os oito elementos da Brigada de Salvamento Mineiro das Astúrias avançaram para o interior do túnel para escavar manualmente os últimos quatro metros de uma galeria vertical até ao local onde caiu Julen. “A fase mais crítica”, segundo o comandante da operação. Mas a extrema dureza do terreno obrigou a quatro microexplosões, que voltaram a atrasar a operação, antes de os mineiros resgatarem Julen.

No local, esteve cerca de uma centena operacionais apoiados por várias máquinas, da Corporação de Bombeiros, Proteção Civil, Equipa de Resgate na Montanha de Álora e Granada, Brigada de Salvamento Mineiro das Astúrias, mergulhadores e especialistas de empresas de engenharia nacionais e internacionais.

QUASE DUAS SEMANAS DE ANGÚSTIA

Para a família foram quase duas semanas de angústia. Acompanhados por uma equipa de psicólogos, José Roselló e Victoria García estiveram sempre na pequena localidade de Totálan, com cerca de 700 habitantes, recebendo diariamente millhares de mensagens de apoio após o incidente que ocorreu no dia 13 de janeiro.

Foi por volta das 14h locais (13h em Lisboa) desse domingo, que Julen caiu num poço ilegal em Totálan quando se dirigia com a família para a casa de um familiar que vivia na zona. Iam preparar paella para o almoço. Os pais dizem que só se aperceberam da queda do filho quando o ouviram chorar por breves instantes.

Nestes dias ali se mantiveram à espera de um ‘milagre’. Um milagre que não aconteceu quando, em 2017, José Roselló e Victoria García perderam o filho mais velho, de três anos, que caiu inanimado no passeio marítimo de Palo, na sequência de um problema cardíaco. E o fim trágico voltou a repetir-se. O chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, já enviou as condolências à família.

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