Desafio violento na Internet que tem crianças como alvo está a preocupar os pais, numa altura em que circulam novos relatos de casos. Instituto de Apoio à Criança apela à partilha e diálogo, para evitar consequências graves.
Há alguns meses que o nome « Momo » vai ganhando espaço nas redes sociais, nos jornais, nos alertas da Polícia e, sobretudo, na vida de pais preocupados incapazes de controlar tudo o que os filhos veem na Internet. É uma espécie de desafio, que começou há meses no WhatsApp e que é atribuído como causa de suicídios infantis e ataques violentos, à semelhança da « Baleia Azul ».
Funciona assim: um utilizador desconhecido, que tem como imagem associada a de uma mulher com os olhos esbugalhados e um sorriso que pode assustar os mais vulneráveis, coage menores a cometer atos violentos. Segundo explicou a Unidade de Investigação de Delitos Informáticos do Estado de Tabasco, no México, quem envia a mensagem dá indicações à criança para fazer mal a si própria, sob ameaça de que a família sofrerá se as mesmas não forem seguidas, garantindo ter acesso a informações pessoais do destinatário.
De acordo com a BBC, a imagem assustadora em causa pertence a uma escultura que representa uma mulher-pássaro e faz parte de uma exposição sobre fantasmas e espetros de uma galeria de arte em Ginza (Tóquio), de 2016.
Youtube nega « Momo » em vídeos
O fenómeno já não é novo, mas novos casos divulgados nos últimos dias no Facebook trouxeram-no novamente para a atualidade mediática. Pais de crianças – entre os quais uma mãe portuguesa a viver na Alemanha – alertaram, em publicações que se tornaram virais, que a tal figura apareceu em vídeos infantis no Youtube, nomeadamente no jogo Fornite e nos desenhos animados Porquinha Peppa. A plataforma respondeu, num comunicado internacional, não haver nenhuma evidência de vídeos a promover o desafio Momo.
« Contrariamente a relatos da imprensa, não temos recebido qualquer evidência de vídeos que mostrem ou promovam o desafio Momo no Youtube. Conteúdo desse tipo estaria a violar as nossas políticas e seria imediatamente removido quando detetado », esclareceu ao JN o Youtube.
Instituto de Apoio à Criança não recebeu queixas
No Reino Unido, a divulgação em massa de um novo relato levou especialistas e instituições de apoio à criança, nomeadamente de apoio em situação de risco de suicídio, a alertar que o fenómeno não é mais do que um caso de « pânico moral » criado por adultos.
Em Portugal, o Instituto de Apoio à Criança (IAC) garante não ter recebido qualquer participação a dar conta do caso, considerando que, a ser verdade, é « muito grave e nefasto para a saúde mental e física das crianças », podendo provocar perturbações de sono, alimentação e outras.
« Geralmente, acontece numa fase em que a criança se está a construir e não tem ainda uma estrutura de personalidade formada para tomar decisões em consciência, não tendo noção do perigo real », explicou ao JN Melanie Tavares, coordenadora dos Sectores da Actividade Lúdica e da Humanização dos Serviços de Atendimento à Criança do IAC.
A responsável disse ainda que este tipo de situação causa « angústia dupla », uma vez que as crianças sofrem por receberem as mensagens e por acharem que não as podem partilhar com os pais – segundo a indicação que recebem na mensagem.
O que se deve fazer?
Neste ou em qualquer caso que cause medo ou ansiedade, as crianças devem partilhar o que viram ou ouviram com os pais. « Não existe consequências » em fazê-lo, descansa a coordenadora.
Já os pais devem abordar as questões com os filhos, podendo aconselhá-los a falarem, em alternativa, com alguém próximo em quem confiem, « como a professora, a tia, o irmão mais velho ». Ocultar nunca é a solução. « Não há nada pior do que a falta de informação. As crianças vão acabar por ouvir falar disso, mas não sabem decifrar », disse Melanie.
Um caso detetado em Portugal
O Comando Territorial de Coimbra da GNR registou, no ano passado, uma ocorrência relacionada com o desafio viral protagonizado pela sinistra figura. A informação foi avançada ao JN na altura por fonte oficial da Guarda que, por se tratar de caso único, não quis avançar mais pormenores.
Alfa/JN