Centrais sindicais convidadas por primeira-ministra francesa para reunião, indica a moderada CFDT.
O convite, dirigido às oito organizações da central sindical, propõe três horários na segunda-feira, na terça ou na quarta para “uma reunião” com a primeira-ministra, sem fornecer mais pormenores.
Ontem decorreu em todo o país a 10.ª jornada de greves e manifestações contra a revisão da lei das pensões, num clima de tensão e impasse no diálogo entre o Governo do Presidente, Emmanuel Macron, e os sindicatos, e marcada por atos de violência que resultaram em 128 detenções em várias cidades.
Este convite da chefe do executivo surge depois de as centrais sindicais francesas terem anunciado, ao fim do dia de hoje, uma 11.ª jornada de greves e manifestações à escala nacional para 06 de abril (quinta-feira).
A oposição a esta reforma emblemática do segundo mandato presidencial de cinco anos de Emmanuel Macron, que aumenta a idade mínima de reforma sem penalizações financeiras de 62 para 64 anos, tornou-se mais radical desde que o Governo fez aprovar o diploma sem votação no parlamento (um procedimento consagrado na Constituição francesa), depois de duas moções de censura que pretendiam derrubá-lo terem sido chumbadas, a 20 de março.
Até então pacíficas, as manifestações passaram a ser marcadas por cada vez mais violência em todo o país, com muitos polícias, guardas-republicanos, vândalos e manifestantes feridos, vitrinas partidas, estabelecimentos comerciais saqueados, incêndios ateados em edifícios públicos e nos sacos de lixo acumulados nas ruas, após mais de três semanas de greve dos serviços de recolha (que os sindicatos do setor já anunciaram que termina na quarta-feira).
Paralelamente, bloqueios de estradas, piquetes de greves e manifestações prosseguem há dias, perturbando o abastecimento de combustíveis a algumas regiões do país e em certos eixos rodoviários ou depósitos de armazenamento.
A circulação ferroviária sofreu fortes perturbações, e a aviação civil pediu às companhias aéreas para cancelarem uma parte dos seus voos previstos para quinta e sexta-feira, em especial com partida do aeroporto de Paris-Orly, devido à greve dos controladores de tráfego aéreo.
Embora mantendo-se inflexível quanto à reforma, o Governo proclama o seu desejo de “apaziguamento”, tendo a primeira-ministra anunciado que iria iniciar na próxima segunda-feira, 03 de abril, um período de três semanas de consultas com deputados, partidos políticos, dirigentes locais e parceiros sociais – âmbito em que se insere o convite endereçado à central sindical mais progressista, a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT).
Laurent Berger tinha já afirmado querer “uma pausa” nesta reforma e já hoje tinha pedido ao executivo que criasse um mecanismo de “mediação” para “encontrar uma saída”.
Por seu lado, o dirigente da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez, indicou que esta vai “escrever ao Presidente da República”, Emmanuel Macron, para lhe pedir, mais uma vez, “para suspender o seu projeto”, enquanto algumas vozes da oposição de esquerda, como o líder comunista Fabien Roussel, acusam Macron de contar com que a opinião pública se vire contra um movimento de contestação social violento e que isso acabe por enfraquecê-lo.