Crítica/Cinema. « Joyeuse retraite 2 ». Portugal não merecia (mais) este filme

Depois de um primeiro filme com mais de um milhão de espectadores em 2019, aqui está a segunda tirada de « Joyeuse retraite ».

Michèle Laroque e Thierry Lhermite, interpretam dois « jovens » reformados que vão enfrentar as dificuldades do final da vida ativa e da mudança de hábitos.

Em « Joyeuse retraite 2 », o casal burguês sexagenário aterra em Portugal onde acaba de comprar uma belíssima casa (ou pelo menos é o que pensa), para a oferecer aos seus filhos, e sem dúvida beneficiar também de uma excelente isenção fiscal, como milhares de outros franceses.

Fabrice Bracq, o realizador, achou que a receita da obra anterior era boa e faz o filme anterior de novo. Pega nos mesmos atores e recomeça uma história semelhante mudando simplesmente de cenário, escolhendo Portugal.

Bem-vindos a uma das maiores concentrações de estereótipos sobre Portugal e sobre os reformados, sobre as empregados das obras e sobre tudo aquilo de que temos memória sobre tangas relativas a Portugal. Os clichés não são maus por si só, mas só se aceitam se tiverem como resultado um mínimo de humor. Mas, neste caso, não há quase nada que se aproveite…

Marilou e Philippe (a dupla Laroque-Lhermitte) está muito pouco inspirada e também não inspira nada de especial. Os jovens reformados vão finalmente viver o seu sonho: ir para Portugal. Arrancam com os netos para lhes mostrar a nova casa de férias, só que, quando chegam lá abaixo, a casa ainda está em construção e o encarregado não é propriamente o homem ideal para o trabalho.

 

Quando a família atinge o seu destino depara-se com um estaleiro num pedaço de terra onde vagueiam burros (ai clichê, clichê!). Dessa situação caótica, Fabrice Bracq podia extrair muito divertimento, mas não consegue ir além do esboço de situações sem grande graça, que vai debitando a um ritmo respeitável.

 

Apesar dos muitos acontecimentos por minuto, qualquer aspiração à comédia é travada pela pobreza de uma escrita e de uma encenação que mais parece saída de um anúncio televisivo a um produto de limpeza.

« Joyeuse retraite 2 » mantém orgulhosamente o rumo: um cenário à moda antiga, um humor básico e os eternos estereótipos associados a Portugal. Nada de engraçado sai no contexto do fenómeno da gentrificação, por exemplo. Note-se apenas algumas notas divertidas sobre o conflito geracional. Nada está desgastado para o realizador, tudo é validado sem vergonha.

Gostava de poder a acreditar que Fabrice Bracq terá tentado gozar com o casal, mas rir de uma certa forma de mania da superioridade francesa exigia uma escrita mais contundente.

E Portugal encontrar-se no centro de um filme tão fraquinho, coproduzido por portugueses e com atores portugueses, custa a ver…

« Joyeuse retraite 2 », de Fabrice Bracq, com Michèle Laroque, Thierry Lhermitte, Nicole Ferroni e Rodolfo Ferreira Rebelo.

Artigo de António Raúl VAZ PINTO DA CUNHA REIS. www.wort.lu/pt/cultura/Jornal.Contacto. 

 

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