Mudanças nas equipas de topo e a provável despedida da Audi após três anos de projeto híbrido marcam a 46ª edição do rali Dakar de todo-o-terreno, que arranca sexta-feira, num percurso maioritariamente novo.
Com Agência Lusa.
Vencedor das duas anteriores edições nos automóveis (de um total de cinco vitórias que já tem), Nasser Al-Attiyah trocou a equipa oficial Toyota por um lugar na Prodrive, estrutura que atualmente faz correr os Hunter BRX e que, a partir de 2025, assume a preparação da equipa oficial da Dacia.
Na Prodrive, o príncipe qatari, de 53 anos, encontra o francês Sébastien Loeb, um dos seus principais rivais nos últimos anos e que tem, atualmente, no Dakar o principal objetivo de carreira, depois de ter deixado os ralis, especialidade em que foi nove vezes seguidas campeão do mundo (de 2004 a 2012).
« Órfã » de Al-Attiyah, a Toyota mantém a aposta no saudita Yazeed Al-Rajhi e no sul-africano Giniel de Villiers, vencedor em 2009, tendo contratado a jovem estrela norte-americana Seth Quintero, que brilhou nos veículos ligeiros (SSV).
Já a Audi chega a esta edição mais « musculada », no terceiro ano do seu projeto híbrido com o RS Q e-Tron, que deverá despedir-se das dunas sauditas.
Como forma de compensar os 100 quilogramas de peso que os Audi têm a mais face à concorrência, a organização permitiu um aumento de 15 Kw, o que se traduz em mais 20 cavalos de potência.
“Permite acompanhar os pilotos da frente sem termos de arriscar tanto”, vaticinou o veterano Carlos Sainz, que faz equipa com o francês Stéphane Peterhansel e com o alemão Mathias Ekstrom.
Perfil da prova deste ano
O aumento de potência dos Audi é uma das novidades da edição deste ano, que conta com um percurso 60% novo, novas designações das categorias e uma etapa que se disputa em dois dias, na qual a organização fornece alimentação e tendas aos pilotos, que estarão incontactáveis pelo resto do mundo e sem assistência exterior.
Ao todo, serão 7.891 quilómetros, 4.727 deles cronometrados, a disputar entre sexta-feira e 19 de janeiro, num total de 13 jornadas 8prólogo e 12 etapas).
Até às verificações, estavam inscritos 778 participantes, 135 deles estreantes, em 434 veículos – 137 motas, 10 quads, 72 ultimates (carros) e 46 camiões.
A estes juntam-se 42 veículos challenger (antigos T3) e 36 SSV (antigos T4), estando ainda inscritos 66 carros clássicos e 14 Dakar classic.
Nas motas, a armada da KTM, liderada pelo argentino Kevin Benavides, vencedor em 2023, e pelo australiano Toby Price, comparte favoritismo com os irmãos gémeos da Husqvarna (com o argentino Luciano Benavides à cabeça).
Na GasGas, outra subsidiária da KTM, pontificam o britânico Sam Sunderland e o australiano Daniel Sanders.
A principal oposição aos austríacos deverá chegar por parte da equipa Honda, gerida pelo português Ruben Faria.
O chileno Pablo Quintanilla e o norte-americano Ricky Brabec serão os chefes de fila da marca nipónica.
Nota ainda para a Hero, com os portugueses Joaquim Rodrigues Jr. e Sebastian Bühler e o piloto do Botswana Ross Branch.
Entre os veículos ligeiros, o português João Ferreira (Can Am) concentra atenções na categoria dos veículos derivados de série (SSV).
Nos protótipos, destaque para a presença do austríaco Lukas Lauda, filho do antigo tricampeão de Fórmula 1, Nikki Lauda (1975, 1977 e 1984), que fará a sua estreia no Dakar.
Ambições lusas nas duas rodas e nos SSV
As maiores ambições portuguesas na 46.ª edição do rali Dakar de todo-o-terreno, que arranca na sexta-feira, na Arábia Saudita, estão concentradas nas categorias das motas e dos SSV, os veículos ligeiros.
Por sua vez, o barcelense Joaquim Rodrigues Jr. sabe, à partida, que este será um ano difícil para as suas aspirações. O cunhado do malogrado Paulo Gonçalves (vítima de uma queda mortal na sétima etapa do Dakar2020) partiu uma perna na edição de 2023. Depois de uma longa recuperação, regressava à competição em Marrocos, em outubro, mas uma queda no « shakedown » (teste) da prova africana provocou uma fratura de uma omoplata.
“Sem corridas, perdemos o ritmo”, frisou Joaquim Rodrigues Jr, à partida da sétima participação, que tem como melhor resultado o 11.º posto em 2021 e uma vitória em etapas (em 2022).
Já António Maio (Yamaha), oito vezes campeão nacional de todo-o-terreno, participou em quatro edições desde 2019 e ambiciona um lugar entre os 15 primeiros “para tentar um lugar numa equipa de fábrica”.
O militar da GNR tem como melhor resultado um 21.º lugar em 2022.
Mário Patrão (KTM), antigo campeão nacional de enduro e todo-o-terreno, volta a participar na classe Maratona, sem assistência exterior, categoria que ambiciona vencer. O piloto natural de Seia promoveu um projeto de sustentabilidade ambiental, plantando centenas de árvores na Serra da Estrela antes da partida para a edição deste ano do Dakar.
O algarvio Alexandre Azinhais (KTM) participa pela terceira vez. Empresário da restauração, fez a sua estreia em 2021 (desistiu por falha mecânica), voltou em 2022, com uma mota de enduro adaptada, e foi 69.º. Afastou-se um ano da competição para estar mais tempo com a família mas acaba por regressar agora, novamente com uma mota de rali.
Já Bruno Santos Fernandes (Husqvarna) é empresário, pai de dois filhos, piloto de enduro há 12 anos e vai cumprir a sua primeira participação no Dakar depois do quinto lugar na classe Rally 2 no Abu Dhabi Desert Challenge em 2023, com a ambição de terminar nos 25 primeiros da geral.
Nas duas rodas está ainda inscrito como português o empresário de construção civil israelita Gad Nachmani (KTM), que tem dupla nacionalidade.
Ainda nas motas vai estar presente o luso-germânico Sebastian Bühler (Hero), que compete com licença alemã mas está radicado há vários anos em Portugal, desde que os pais visitaram o país em férias, tendo já vencido o campeonato português de todo-o-terreno e por três vezes a Baja de Portalegre, de 2018 a 2020.
Sem aspirações nos automóveis
Nos automóveis, o experiente Paulo Fiúza navega o lituano Vaidotas Zala (Mini), e Gonçalo Reis o espanhol Pau Navarro (Mini). Reis participou de mota em 2017, quando foi 26.º e segundo da classe maratona. No ano passado navegou Hélder Rodrigues, que este ano não participa. José Marques navega o lituano Petrus Gintas (MO).
Nos Challenger (antigos T3), destaque para as duplas Mário Franco/Daniel Jordão (Can-Am) e João Monteiro/Nuno Morais (Can-Am), a que se junta o antigo campeão nacional de todo-o-terreno, Ricardo Porém (Can-Am), navegado pelo argentino Augusto Sanz. Duas vezes campeão nacional de todo-o-terreno em automóveis, esta é a quinta participação do leiriense, que quer um lugar dentro do « top-5 ».
João Ferreira é destaque nos SSV
Nos SSV, o também leiriense João Ferreira faz dupla com o experiente Filipe Palmeiro, num Can-Am preparado pela South Racing, com ambições à vitória. Fausto Mota (que corre com licença espanhola) navega o brasileiro Cristiano Batista (Can-Am).
A 46.ª edição do rali Dakar de todo-o-terreno arranca na sexta-feira, com um prólogo, em Alula, e termina no dia 19, após 12 etapas, em Yanbu.
Esta é a quinta vez consecutiva que a prova se disputa inteiramente na Arábia Saudita.
Clássicos com toque português
A versão histórica do rali Dakar de todo-o-terreno, o Dakar Classic, conta, este ano, com um toque português, já que estão inscritos cinco participantes, em três veículos, dois deles da marca lusa UMM.
O português, que morou vários anos nos Emirados Árabes Unidos, já participou na edição de 2022 mas não resistiu a um regresso.
O objetivo é “deixar José Megre orgulhoso, onde quer que ele esteja”, frisou, em alusão àquele que é considerado o « pai » do todo-o-terreno nacional, já falecido.
Nesta categoria participam ainda Paulo Oliveira (com licença moçambicana) e Arcélio Couto, em outro UMM. Ambos já têm experiência nas motas.
Por fim, Alexandre Freitas compete nos Camiões Clássicos, num Iveco, com Luca Macini e Marco Giannecchini.