Deira, berço comercial do Dubai e ponto turístico onde também se fala português
Junto às margens do Creek, sobrevoado por gaivotas e corvos, juntam-se os tradicionais barcos de madeira, conhecidos como ‘abras’, que funcionam como ‘táxis’, fazendo pequenas travessias até às zonas históricas, que preservam o antigo centro da cidade, como os mercados tradicionais de Deira ou Bur Dubai.
Outras embarcações, que funcionam como restaurantes, alguns aparentemente abandonados, servem de atração para os turistas e de abrigo para alguns gatos que por lá circulam.
É nos ‘souks’ que se concentra a maior agitação. Centenas de pessoas percorrem ruas estreitas de pequenas lojas, onde o cheiro a incenso e especiarias predomina.
Os vendedores convidam os turistas a entrar e a conhecer as suas lojas, “sem compromisso”, mas com insistência, pedem-lhes que cheirem as especiarias, comprem ‘cashemira’ ou experimentem fatos tradicionais. Dificilmente se contentam com um não.
As misturas de chás também estão expostas à entrada das lojas e os vendedores não hesitam em recomendá-las. Para as dores de costas, barriga inchada, circulação, insónias, sistema nervoso, constipações ou problemas respiratórios, são algumas das sugestões apresentadas.
Há também alguma roupa contrafeita, relógios, perfumes, ambientadores, candeeiros, ímanes, baralhos de cartas, postais, camelos de peluche e montras carregadas de ouro.
Os preços nunca estão indicados e são sempre inflacionados numa primeira abordagem. Os turistas regateiam até chegarem a um valor que consideram justo.
Além de dirhams (moeda local), muitas vezes, também são aceites euros e dólares, além dos cartões visa ou crédito, não sem antes os vendedores deixarem claro que a estas opções acresce a taxa cambial.
Muitos pedem para que os turistas fotografem as suas lojas, levem cartões e divulguem o negócio.
Só as câmaras de televisão não são, por norma, bem-vindas. Os vendedores olham com desconfiança. Dizem que não é bom falar, enquanto outros fazem algumas questões, visivelmente incomodados.
É no ‘spice souk’ que Fazal Khor tem a sua loja, carregada de chás, especiarias e incensos, que tem registado um aumento no número de clientes impulsionado pela Expo Dubai.
“Este é bom para a pressão arterial, este chá de canela, lavanda, pimenta e cardamomo é relaxante, bom para dormir, e este é bom para os problemas de estômago e costas. Isto é açafrão”, indicou à Lusa, garantindo que, além dos turistas, muitas pessoas do Dubai visitam o espaço.
“Sim, [a Expo] trouxe muitas pessoas da Rússia, do Brasil, do Japão ou do Qatar”, exemplificou, voltando em seguida ao ‘cardápio’ da sua loja.
Cinco vezes ao dia, os locais são chamados a rezar. Ecoam pelas ruas orações em árabe e muitos respondem em uníssono. Em frente à mesquita, que fica nas redondezas, juntam-se vários grupos. Os sapatos acumulam-se nas escadas e estendem-se pequenos tapetes nos quais as pessoas se ajoelham.
Nos mercados tradicionais e nas ruas dos bairros do centro histórico também se fala de Portugal, sobretudo de futebol. Ronaldo, Carlos Queiroz e há até quem saiba de cor o nome principais clubes.
“O Ronaldo é o meu jogador preferido […]. Quero aprender a língua portuguesa. Tenho muitos clientes do Brasil. O sotaque é um pouco diferente, mas a língua é a mesma”, disse à Lusa Baber Daud, que também tem uma loja de especiarias em Deira, avançando logo algumas palavras em português.
Daud, oriundo do Paquistão, está há cerca de 12 anos no Dubai, cidade que diz amar, mas “em sonhos” continua a viajar para a Califórnia.
“Temos muitos turistas de diferentes países da Europa e da América”, como Portugal, Brasil, Itália e Alemanha, referiu.
Para o comerciante, a Expo Dubai tem levado mais turistas a Deira e a covid-19 já não os afasta.
“Não há muitos casos de covid-19 no Dubai. Está controlado. Agora já é normal. Antes, [os turistas] tinham receios. Agora, quando ficamos doentes, vamos ao médico e tomamos medicamentos”, acrescentou.
Asjad Ali Malik, que em conjunto do Daud, é dono da loja DAMT, garante que hoje os Emirados Árabes Unidos não são apenas petróleo, mas o resultado de um grande investimento no turismo e também em segurança.
“Depois de 1966, quando encontrámos petróleo, o sheik Zayed decidiu que também iríamos investir no turismo […]. Do ponto de vista económico, as pessoas pensam que os Emirados Árabes Unidos são só petróleo, mas, neste momento, isso é errado”, afirmou, vincando que este recurso contribuiu com apenas 3% para a economia local em 2021.
Malik explicou ainda que, em complemento da aposta no turismo, foi realizado um grande investimento em segurança.
“Se houver paz, podemos investir, podemos ir para o país com o propósito da educação ou para aproveitar. Hoje, o Dubai e Abu Dhabi são das cidades mais seguras do mundo”, concluiu.