As divergências sobre a legislação laboral marcaram hoje o debate entre os secretários-gerais do PS e do PCP, tendo António Costa e Jerónimo de Sousa convergido na necessidade do aumento geral dos salários.
No primeiro debate televisivo para as eleições legislativas de 06 de outubro, esta noite, na SIC, os líderes socialista e comunista mantiveram um tom sereno e cordial, sem grandes momentos de tensão entre os dois.
As « divergências de fundo » entre PS e PCP em relação à legislação laboral foram assumidas pelo secretário-geral do PCP depois de uma pergunta sobre se os comunistas tinham perdido com a geringonça, ideia que Jerónimo de Sousa recusou uma vez que, disse, pelo país « há uma nota geral de valorizar aquilo que se alcançou » com a ação e a proposta do partido.
Perante as críticas do líder comunista às alterações à legislação laboral, concretamente sobre o alargamento do período experimental, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, assumiu « uma opinião diferente », elogiando as mudanças recentemente promulgadas pelo Presidente da República e em relação às quais BE, PCP e PEV já anunciaram que vão pedir a fiscalização sucessiva da constitucionalidade.
« Não tenho nenhum plano B. A nossa convicção é que é constitucional », respondeu o líder socialista à pergunta da moderadora do debate, a jornalista Clara de Sousa.
Na réplica, Jerónimo de Sousa começou pausadamente com um « meu caro António Costa » para recordar a aprovação, em 1976, por iniciativa do PS da lei dos contratos a prazo, instando o socialista a ler a argumentação e fundamentação sobre a excecionalidade e sazonalidade, « a fenda na muralha da legislação que permitiu que hoje exista em Portugal centenas de milhares de trabalhadores com vínculos precários ».
« Qualquer patrão faz contas e mais vale a pagar a taxa e manter os vínculos precários do que resolver o problema de fundo », atirou o líder comunista, ouvindo-se um histórico « olhe que não » de António Costa a meio desta frase.
Ao dizer a Jerónimo “olhe que não”, António Costa usou a mesma expressão que antigo líder comunista Álvaro Cunhal utilizou para contrariar o socialista Mário Soares, num debate televisivo em 1975.
Alfa/Lusa.