Dois polícias franceses condenados a sete anos por violarem uma turista

Le 36 quai des Orfèvres, siège de la police judiciaire, s'apprète à quitter l'Île de la Cité, pour s'installer aux Batignolles.

Dois polícias franceses condenados a sete anos por violarem uma turista canadiana dentro da sede da polícia. Inicialmente o tribunal decidiu não os acusar, mas a persistência da vítima, que prescindiu do anonimato para poder falar, acabou por ter efeitos.

Alfa/Expresso: Por Luís M. Faria

 

Dois membros de uma força policial de elite francesa foram condenados a sete anos de cadeia por terem violado uma turista canadiana. Os factos aconteceram em 2014, após a vítima se ter embebedado num pub e ter aceite o convite para ir com eles conhecer a sede da polícia – o Quai des Orfèvres, que aparece em tantos livros e filmes policiais.

Uma vez lá, contou Emily Spanton (que prescindiu do anonimato que a lei lhe concede para poder falar do caso à vontade), fizeram-na beber mais whisky, obrigaram-na a praticar sexo oral e violaram-na diversas vezes. Também a agrediram de outras formas, por exemplo atirando-lhe a cara contra a parede.

Quando finalmente a mandaram embora, uma hora e vinte minutos depois, ela disse a um agente à entrada do edifício que tinha sido violada. Mais tarde seria alegado que esse agente tinha percebido « vol » (roubo) em vez de « viol » (violação) quando a ouviu.

Qualquer que fosse o motivo, o tribunal inicialmente decidiu não acusar os polícias. Só após um recurso eles foram submetidos a julgamento. E mesmo assim, o modo como os procuradores agiram por vezes sugeriu que a verdadeira ré era Spanton. A sua vida pessoal foi examinada a fundo, tendo os investigadores chegado a ir ao Canadá entrevistar família e amigos dela, sem mostrarem em relação aos acusados um zelo equivalente.

OUTROS PARTICIPANTES NA VIOLAÇÃO EM GRUPO?

No final, as defesas apresentadas pelos acusados não resistiram às provas. Um deles começou por garantir que não tivera contacto com Spanton, mudando de versão quando o seu ADN apareceu na roupa interior dela. A justificação última – que o sexo fora consensual – não convenceu os jurados.

Para isso contribuíram as circunstâncias do caso, o facto de os acusados terem destruído várias provas e até uma mensagem enviada por um dos réus a outro agente: « Despachem-se, ela é uma swinger. » Ao que parece, pelo menos mais um polícia poderá ter estado envolvido na violação, mas Spanton não conseguiu explicar quem.

No seu resumo dos factos, o procurador declarou: « Ao aproveitarem-se de uma estrangeira jovem e alcoolizada, tratando-a como um objeto, eles passaram para o lado daqueles que perseguem. Mentiram, falharam, esconderam. »

Quanto às falhas da investigação interna, o homem que a conduziu lamentou não ter sido chamado mais cedo, o que o impediu de isolar o local do crime e ouvir os agentes imediatamente. Durante o julgamento foi confirmado que quando ela se queixou a submeteram logo a testes de álcool e drogas, enquanto os agentes foram simplesmente para casa.

O júri levou oito horas a pronunciá-los culpados. Os condenados têm agora dez dias para recorrer. Um deles, ao ouvir o veredicto, chorou. Qualquer que venha a ser o veredicto final, o caso já é um embaraço para Brigade de Recherche et d’Intervention, a que eles pertencem.

Le 36 quai des Orfèvres, siège de la police judiciaire, s’apprète à quitter l’Île de la Cité, pour s’installer aux Batignolles.
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