“É incrível que ninguém tenha morrido” na final da Liga dos Campeões, em Paris. Relatório de equipa liderada pelo ex-ministro português da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, culpa UEFA.
Segundo o jornal Expresso, a Imprensa inglesa revelou principais conclusões do trabalho feito sob orientação do antigo ministro da Educação. Culpas foram atribuídas aos adeptos do Liverpool para lavar imagem das autoridades, que falharam no planeamento e ação, tendo a UEFA “marginalizado” a sua própria unidade de segurança e a polícia utilizado gás lacrimogéneo em adeptos “sem justificação ».
Despacho da Lusa sobre o mesmo assunto:
UEFA responsabilizada por distúrbios na final da Liga dos Campeões 2021/22
Segundo as conclusões da investigação independente, liderada pelo antigo ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, e realizada aos incidentes no e em torno do Stade de France, em Paris, na vitória do Real Madrid ante o Liverpool (1-0), é a UEFA, “como detentora do evento, que comporta responsabilidade primária pelas falhas que quase levaram a um desastre”.
No documento, a que a Lusa teve acesso, também é apontado o dedo às autoridades policiais da capital francesa e à Federação Francesa de Futebol (FFF) pelos problemas de segurança registados em 28 de maio de 2022, bem como a dificuldade em “manter a ordem”, o que ainda assim “não absolve a UEFA de responsabilidades”.
A ‘colagem’ dos britânicos a ‘hooligans’, adeptos violentos, foi “inexplicável”, adianta o relatório, depois de estes terem sido inicialmente incriminados pelo Governo francês aquando dos desacatos, em maio do ano passado.
A vasta lista de conclusões do comité de investigação independente, liderado por Brandão Rodrigues, elenca a má gestão do volume de pessoas a chegar pelas várias entradas do recinto, defeitos nos acessos, grupos de locais que atacaram adeptos, tentando provocar confrontos, o mau policiamento e a falta de planos de contingência.
A mudança abrupta do local de realização, de São Petersburgo (devido à guerra na Ucrânia) par Paris, foi outro fator apontado, além de questões como a bilhética, de um sistema duplo que introduziu confusão e problemas aos bilhetes falsos e a tentativa de forçar entrada por pessoas sem bilhete, são críticas deixadas no penúltimo capítulo do documento, ainda que a questão quanto a ingressos forjados (ou inexistentes) não seja conclusiva quanto à importância na disrupção do evento.
As críticas sucedem-se aos vários momentos, incluindo-se o adiamento do pontapé de saída, devido aos confrontos e ao ‘caos’ que introduziu no acesso às bancadas, mas a forma « confusa » como este ocorreu não escapa, bem como a falta de comunicação desta medida para fora do estádio.
A Convenção de Saint-Denis, criada pelo Conselho da Europa para mudar o paradigma de segurança em eventos desportivos para uma abordagem integrada que coloca de parte o foco em fenómenos de violência, é apontada como um exemplo, e uma « obrigação partilhada » de UEFA e autoridades locais competentes, que não foi respeitada.
O comité deixa um total de 21 recomendações fundamentadas para UEFA e autoridades, depois de ficar claro, quanto aos incidentes no Stade de France, que « o ocorrido na final da ‘Champions’ foi largamente o resultado de mau planeamento, falta de supervisão, pobre interoperabilidade entre os vários ‘stakeholders’ e falta de contingências ».
« Concordamos, neste aspeto, com as conclusões do Senado de França. Contudo, como detentor do evento, é da nossa opinião que foi, em última análise, a UEFA que tinha a reponsabilidade pelo falhanço destes vários ‘stakeholders’ para que cumprissem a sua obrigação partilhada de respeitar a Convenção de Saint-Denis », lê-se no documento.
Assim, o modelo de policiamento para a final era « inconsistente e desajustado ao propósito », com uma abordagem « demasiado securitizada, com ações unilaterais por parte da polícia » e ideias « mal concebidas quanto a ameaças à ordem pública », má cooperação e o uso excessivo de gás lacrimogéneo e outro material dispersor.
A transparência, melhores práticas de cooperação, supervisão e vigilância, bem como de auto-escrutínio por parte dos organismos competentes, integram a lista de recomendações ao organismo de cúpula do futebol europeu, com outras, relativas à resposta de segurança e ordem pública, deixadas à polícia e à autarquia de Paris.
Um relatório anterior tinha apontado já para falhas organizacionais e no policiamento da partida, o jogo de maior cartaz do futebol europeu de clubes, e um dos maiores eventos desportivos mundiais, lembrando a proximidade da realização dos Jogos Olímpicos Paris2024.