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O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi talvez a personalidade que proferiu avisos e frases mais fortes na abertura, ontem, da Assembleia Geral da organização internacional.
O português fez um longo discurso no qual afirmou que o mundo nunca enfrentou tantas ameaças, como destruição da paz, desconfiança ou alterações climáticas e pediu cooperação entre os países presentes na abertura do debate geral das Nações Unidas.
António Guterres falou na presença de mais de 100 chefes de Estado e de Governo e representação diplomática de todos os 193 Estados-membros da ONU.
Segundo o secretário-geral da ONU, “o mundo nunca esteve tão ameaçado”, com seis grandes temas de divisão: assalto à paz em todo o mundo, alterações climáticas, fosso entre ricos e pobres, desigualdade de género, divisão tecnológica ou digital e divisão geracional.
« Grande parte dos problemas advêm da decorrente pandemia de covid-19, que tem criado e exagerado as desigualdades sociais e económicas no mundo », mas o secretário-geral sublinhou ainda uma outra “doença contagiosa”: a desconfiança a vários níveis – sejam as teorias da conspiração que entram em contradição com a ciência, a população sem confiança nos seus governos ou ainda a falta de cooperação entre países em temas que necessariamente dependem do multilateralismo.
Guterres classificou como “obscenidade” e grande “falha ética” global o facto de as vacinas não estarem a ser distribuídas de forma uniforme no mundo, devido à “tragédia de falta de vontade política e egoísmo”.
“Em vez do caminho da solidariedade, estamos num caminho sem fim para a destruição”, lamentou Guterres, que também declarou que a “interdependência tem de ser a lógica do século XXI”.
Biden e Marcelo também falaram na abertura, em Nova Iorque, da 76ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu as vacinas como bem público global, num discurso nas Nações Unidas em que condenou o « isolacionismo, o populismo e a xenofobia, apelando ao compromisso ».
O chefe de Estado sustentou que « a pandemia, a crise económica e social dela emergente, a recente evolução no Afeganistão » demonstram que « a governação de um mundo multipolar exige compromisso e concertação entre as nações ».
Quanto a Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, assegurou que os Estados Unidos “não procuram uma nova Guerra Fria”, na sua primeira intervenção perante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Foi uma clara alusão ao confronto que decorre com a China, designadamente ao polémico acordo AUKUS com a Austrália e o Reino Unido, que teve consequências nas relações com a França, que perdeu um contrato de 36 mil milhões de euros relativo à vende de submarinos franceses a Camberra.
Biden insistiu que “não procura uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos”. Disse também que quer uma « nova era de diplomacia interminável ».