Emigrantes enviam para Portugal quase 6 mil euros por minuto. O valor mais alto de sempre

O valor mais alto de sempre. Um trabalho do Expresso-Diário que pode ler na íntegra em expresso.pt.

Há cerca de dois milhões de portugueses a viver no estrangeiro e as suas transferências para as famílias em Portugal têm vindo a aumentar nos últimos anos <span class="creditofoto">Foto Ana Baião</span>

Há cerca de dois milhões de portugueses a viver no estrangeiro e as suas transferências para as famílias em Portugal têm vindo a aumentar nos últimos anos FOTO ANA BAIÃO

As remessas bateram no valor mais alto de sempre. Suíça, Reino Unido e Angola estão entre os países de origem que registaram os maiores aumentos. Relatório do Observatório da Emigração publicado esta segunda-feira atualiza ainda as estatísticas da saída de portugueses: 85 mil deixaram o país em 2017

TEXTO RAQUEL ALBUQUERQUE/Expresso-Diário

Desde 2010, os emigrantes portugueses já enviaram para as famílias um total de 23 mil milhões de euros. São, em média, quase 6 mil euros por minuto. Portugal é o país da União Europeia com maior valor de remessas e em 2017 atingiu o recorde, confirma o Observatório da Emigração no relatório estatístico de 2018, divulgado esta segunda-feira.

“Os dois países onde residem mais portugueses, França e Suíça, foram os países de origem de mais de metade das remessas recebidas em Portugal em 2017 (32% e 22%, respetivamente). O Reino Unido, hoje o principal país de destino da emigração, ocupou a terceira posição, estando na origem de 10% das remessas recebidas. O quarto país foi os Estados Unidos da América, de onde vieram 7% das remessas recebidas, seguindo-se Angola em 5.º. Entre 2016 e 2017, a Alemanha passou de quarto para sexto lugar”, lê-se no relatório “Emigração Portuguesa”, que atualiza os dados divulgados em dezembro do ano passado.

As estimativas do Observatório da Emigração apontam para a saída de 85 mil portugueses em 2017, menos 35 mil do que no pico da crise em 2013, o que vem confirmar uma queda da emigração. “A descida está fortemente correlacionada com a retoma da economia portuguesa, sobretudo no plano da criação de emprego, bem como com a redução da atração de países de destino como o Reino Unido, devido ao efeito Brexit, e Angola, devido à crise económica desencadeada com a desvalorização dos preços do petróleo. No curto prazo, a primeira poderá agravar-se e a segunda estabilizar ou mesmo recuperar”, conclui o Observatório.

Em 2017, o valor de remessas superou os 3,5 mil milhões de euros, com um crescimento de 6%. “Devido ao crescimento económico verificado em Portugal no mesmo período, o valor das remessas em percentagem do PIB manteve-se em 1,8%”, lê-se no relatório. Se for comparado o peso das remessas no PIB, Portugal tem um valor situado “num patamar comum ao das economias mais desenvolvidas ou de maior porte”, conclui o relatório. Esse peso oscila, por exemplo, entre 34% em Tonga (país da Oceania, integrante da Polinésia) e menos de 0,1% nos Estados Unidos da América.

A subida tem vindo a ser gradual sobretudo a partir de 2009. Em 2010, as remessas eram de 2,4 mil milhões de euros; em 2013 já chegavam aos €3 mil milhões; e em 2017 bateram o recorde, ultrapassando os €3,5 mil milhões.

“Não existe uma relação direta entre o aumento da emigração e o aumento das remessas”, afirma Inês Vidigal, investigadora do Observatório da Emigração. “Desde 2014 que os valores da emigração começaram a estabilizar e depois a diminuir e o mesmo não aconteceu com os valores das remessas que têm continuado a aumentar.”

Olhando para trás, desde 1996 que as remessas têm um peso económico sempre decrescente quando são medidas em percentagem do PIB. “No entanto, em 2007 e em 2008 esse peso subiu ligeiramente, tal como nos últimos anos, para valores já próximos dos 2% do PIB. Estamos, porém, ainda longe dos valores observados no início do século (perto de 3% do PIB), e a uma distância ainda maior do pico da série pós-25 de Abril: quase 10% do PIB em 1979”, explica o Observatório.

E DE ONDE VÊM?

Só da Suíça, as remessas aumentaram 100 milhões de euros em 2017. Foi esse o maior aumento em termos absolutos. Mas é de acrescentar ainda as subidas relativas das transferências com origem no Reino Unido (+23%) e em Angola (+19%). Já de Espanha registou um decréscimo de 18%.

Há seis países de onde vieram, de cada um, mais de 200 milhões de euros: França, Suíça, Reino Unido, Estados Unidos, Angola e Alemanha. Países como Espanha, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, África do Sul, Canadá, Brasil e Suécia enviam valores inferiores a 200 milhões. “Neste leque misturam-se países hoje com pouca emigração mas com uma população emigrada de grande volume devido a movimentos passados (casos do Canadá e Brasil), com países que são na atualidade destinos da emigração ativos. No conjunto, estes 14 países estiveram na origem de 98% do valor total das remessas recebidas em Portugal em 2017.”

Se olharmos para evolução das remessas entre 2002 e 2017, Angola destaca-se substancialmente, passando de 14 milhões de euros para €245 milhões. “A partir de 2010 houve um grande fluxo de emigrantes portugueses a irem para Angola trabalhar, até aos efeitos da crise dos preços do petróleo sobre o mercado de trabalho angolano terem tornado o destino pouco atrativo. Acho que esta seria a explicação mais provável para esta evolução”, afirma Inês Vidigal.

Em dezembro passado, na apresentação pública de dados sobre a emigração, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, atribuiu o aumento das remessas à “confiança no país, na economia e nas instituições bancárias”, sublinhando que, “sendo poupanças transferidas para Portugal, são uma parte importantíssima da formação de capital de que o país dispõe e tanto precisa”.

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